Gastronacionalismo e Gastrodiplomacia: Culinária como Vetor de Identidade e Poder Suave

Editado por: Olga Samsonova

O conceito de gastronacionalismo sustenta que a culinária reflete intrinsecamente a identidade nacional, servindo simultaneamente como um instrumento diplomático eficaz para reforçar o sentimento de pertencimento pátrio. A alimentação transcende a subsistência, estabelecendo-se como um marcador cultural não antagônico, uma característica de valor para indivíduos imigrantes que buscam integração em novos contextos geográficos e sociais. Em contraste com manifestações nacionalistas mais beligerantes, a esfera da gastronomia fomenta a partilha e a comunhão, um princípio evidente no florescimento de estabelecimentos internacionais em metrópoles cosmopolitas como Madrid.

Pesquisadores, como Michaela DeSoucey da North Carolina State University, definiram o gastronacionalismo como o "uso da produção, distribuição e consumo de alimentos para demarcar e sustentar o poder emotivo do apego nacional, bem como o uso de sentimentos nacionalistas para produzir e comercializar alimentos". Embora a culinária demonstre notável resistência à homogeneização global, facções políticas de extrema-direita tentam instrumentalizar costumes gastronômicos específicos para fomentar a polarização social.

Em contrapartida, a gastrodiplomacia, definida como o emprego estratégico da culinária nacional para moldar a percepção global de um país, ganhou proeminência como componente da diplomacia cultural e pública. Um exemplo histórico reside em Portugal, onde os cardápios diplomáticos, antes alinhados à tradição francesa, foram reorientados para destacar pratos locais há várias décadas, sinalizando uma afirmação de identidade no cenário internacional. Essa estratégia visa alavancagem socioeconômica, política e cultural, sendo um ponto de vista estratégico para nações que buscam reconhecimento.

A Tailândia exemplifica a aplicação sistemática da gastrodiplomacia, utilizando programas governamentais para impulsionar sua gastronomia no exterior. Este esforço coordenado resultou na duplicação do número de restaurantes tailandeses em escala mundial, impulsionando o setor de turismo do país. A culinária tailandesa, celebrada por sua diversidade que abrange desde a comida de rua vibrante, com pratos como o Pad Thai, até experiências de alta gastronomia com estrelas Michelin em Bangkok, constitui um tesouro cultural. A comida de rua, acessível, com porções a partir de 60 baht (aproximadamente € 1,6), atrai milhões de visitantes anualmente em busca de sabores autênticos e da energia dos mercados noturnos.

Em contextos que variam de jantares familiares a banquetes estatais, a alimentação atua como catalisador para o diálogo e a conexão interpessoal, atenuando disparidades culturais. Ela se manifesta como um elemento identitário fundamental com a capacidade de transpor barreiras culturais, promovendo a comensalidade e oferecendo um terreno fértil para negociações e a moderação de divergências entre líderes mundiais. Pesquisadoras como Keri e Kelsi Matwick destacam que refeições em cúpulas de chefes de Estado celebram essa comensalidade.

O Japão, por exemplo, mobilizou seu discurso alimentar como um dispositivo biopolítico para propagar uma imagem de nação "saudável" e "deliciosa", enquanto o Peru viu seus governos atuarem como protagonistas na formação dos significados culturais e políticos de seus alimentos, conforme análise de Raul Matta e Maria Helena Garcia. Tais ações evidenciam a profundidade com que a culinária está integrada nas estratégias de projeção de poder suave de uma nação no cenário global.

Fontes

  • EL PAÍS

  • EL PAÍS

  • El Diario de Madrid

  • Agencia Estatal de Investigación

  • ResearchGate

  • IGCAT

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