Ponto de Inflexão em Antananarivo: Alinhamento Militar Reforça Exigências de Mudança da Juventude

A capital de Madagáscar, Antananarivo, viveu um momento de reconfiguração política em Outubro de 2025, desencadeado pela insatisfação popular e por um inédito alinhamento militar. O que começou como um protesto da Geração Z, amplificado pelas redes sociais devido a carências crónicas de serviços, evoluiu para um desafio sistémico à estrutura de poder. As manifestações, que tiveram início no final de Setembro de 2025, foram motivadas pela interrupção constante do fornecimento de água e eletricidade, problemas que se arrastam há anos e tornam a vida quotidiana insustentável para milhões de malgaxes.

O ponto de viragem crucial deu-se a 2 de Outubro de 2025, quando o Corpo de Intervenção e Antiterrorismo Especial (CAPSAT), uma unidade de elite das forças armadas, quebrou a tradição de neutralidade interna. Numa declaração que ecoou a indignação das ruas, o CAPSAT proclamou: "Nós, que vestimos o uniforme, levantamo-nos pelo povo". Este gesto de solidariedade militar com os protestos juvenis, que utilizam símbolos como a caveira e ossos cruzados inspirados no anime "One Piece", alterou drasticamente o equilíbrio de forças. A resposta inicial do Presidente Andry Rajoelina, que dissolveu o seu governo em 29 de Setembro de 2025, mostrou-se insuficiente para apaziguar a exigência de mudança mais profunda que emanava da juventude.

O custo humano desta escalada é significativo, com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos a reportar pelo menos 22 vítimas mortais e mais de 100 feridos desde o início dos tumultos, atribuindo a violência às forças de segurança. O Alto Comissário Volker Türk exigiu o fim do recurso a força desnecessária, apelando ao diálogo. Este cenário complexo sugere que falhas na gestão de infraestruturas, como a dependência da hidroelétrica e a perda de 30% da água em canalizações antigas, criaram um campo fértil para a mobilização.

O raliamento do CAPSAT, unidade que historicamente ajudou Rajoelina a ascender ao poder em 2009, sinaliza uma perceção generalizada de que o sistema necessita de uma reorientação fundamental. A Gendarmeria, por sua vez, reconheceu abusos e apelou à fraternidade, indicando uma reavaliação do seu papel como protetora da ordem constitucional. A situação, que se mantinha volátil a 12 de Outubro de 2025, coloca a nação num limiar, onde a cooperação entre as novas vozes da rua e setores anteriormente alinhados ao poder será determinante para a construção de um novo quadro de estabilidade e serviço público.