A União Europeia (UE) está a expandir estrategicamente os seus laços comerciais com nações latino-americanas, ao mesmo tempo que se prepara para navegar em complexas regulamentações digitais em relação aos Estados Unidos. Esta abordagem dupla reflete um reequilíbrio económico e geopolítico global.
Em abril de 2025, a UE e os países do Mercosul alcançaram um acordo comercial histórico, que visa criar a maior zona de livre comércio do mundo, abrangendo mais de 700 milhões de pessoas e contribuindo com cerca de 20% para o PIB global. Espera-se que este acordo elimine tarifas e aumente significativamente o acesso europeu aos mercados latino-americanos. O Ministro da Economia e Comércio de Espanha, Carlos Cuerpo, indicou que o pacto UE-Mercosul poderá ser ratificado até ao final de 2025, sugerindo que as novas tarifas impostas pelos EUA às exportações europeias deveriam servir como um catalisador para este acordo há muito esperado. Ele projetou que setores como o vinho e o azeite espanhóis poderiam ver um aumento de 40-50% nas exportações com a abertura do mercado do Mercosul. Este acordo é também visto como um movimento geopolítico para reduzir a dependência da Europa em relação à China, com a Alemanha e a Espanha a serem os principais impulsionadores da sua ratificação.
Solidificando ainda mais a sua presença na região, a UE e o México atualizaram o seu acordo comercial existente em maio de 2025. Este pacto aprimorado introduz disposições cruciais para o comércio digital, manufatura e agricultura, aprofundando a integração económica. O comércio bilateral de bens entre a UE e o México atingiu 81,7 mil milhões de euros em 2023, e espera-se que o acordo modernizado estimule ainda mais esta troca. O acordo simplifica procedimentos, oferece benefícios para pequenas empresas e garante um fornecimento mais seguro de matérias-primas críticas para as transições verde e digital.
No entanto, esta expansão para a América Latina ocorre num momento em que a UE enfrenta desafios significativos na aplicação do seu Digital Markets Act (DMA) e Digital Services Act (DSA). Estes regulamentos foram concebidos para governar as principais empresas de tecnologia dentro do Mercado Único Europeu. Os Estados Unidos, sob a administração do Presidente Donald Trump, expressaram forte oposição, ameaçando medidas retaliatórias, incluindo tarifas, contra países que implementam impostos digitais ou regulamentações que afetam as empresas de tecnologia americanas. Um estudo do CCIA Research Center estima que as regulamentações digitais da UE poderiam custar às empresas dos EUA até 97,6 mil milhões de dólares anualmente.
Em resposta a estas pressões dos EUA, a Vice-Presidente da Comissão Europeia, Teresa Ribera, apelou firmemente à UE para manter a sua autonomia regulatória e resistir a quaisquer tentativas de enfraquecer a sua legislação digital. Ela enfatizou a importância de defender os valores de proteção ao consumidor e a independência regulatória, afirmando que a UE não pode estar sujeita à vontade de um terceiro país. A França e a Alemanha também se alinharam com esta posição, com o Presidente Emmanuel Macron e o Chanceler Friedrich Merz a afirmarem que as decisões regulatórias da UE são uma questão de soberania e que qualquer coerção seria recebida com uma resposta. A UE sustenta que as suas regras digitais não são discriminatórias e são essenciais para um ambiente digital justo e seguro, protegendo não só os consumidores contra fraudes, mas também as democracias contra manipulações.