Diálogo em Moscou: Putin Recebe Enviados dos EUA em Meio a Impasse Territorial na Ucrânia

O Kremlin foi palco, na terça-feira, 2 de dezembro de 2025, de um encontro de alta voltagem entre o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, acompanhado por Jared Kushner, genro do ex-presidente Donald Trump. A pauta central da reunião, que se estendeu por quase cinco horas, foi a discussão de uma versão revisada de um plano de paz destinado a encerrar o conflito na Ucrânia, um esforço diplomático intensificado na última semana. Este diálogo ocorreu após negociações produtivas entre a delegação americana e representantes ucranianos na Flórida, que geraram avanços em certas áreas, mas deixaram pontos sensíveis em aberto.

A delegação americana apresentou um quadro de negociação que, na sua versão mais recente, contava com 19 a 27 pontos, abrangendo temas como a implementação de um cessar-fogo, garantias de segurança, restrições ao aparato militar ucraniano, o estatuto da OTAN e planos para a reconstrução pós-conflito. No entanto, o cerne da discórdia permanece inalterado: o controle sobre aproximadamente 20% do território ucraniano sob ocupação russa, englobando a Crimeia, o Donbas e porções das regiões de Kherson e Zaporizhzhia. O assessor presidencial Yuri Ushakov confirmou que a Rússia manteve uma linha dura, não havendo qualquer acordo de compromisso sobre as questões territoriais.

As declarações pós-encontro refletiram a complexidade da situação, com Ushakov descrevendo as conversações como "úteis e substanciais", apesar da ausência de consenso territorial. Fontes próximas à comitiva americana indicaram que Putin demonstrou interesse em pontos relacionados à economia e segurança, mas a posição russa sobre as anexações foi caracterizada como "inabalável". Um oficial da Casa Branca classificou o evento como um "passo inicial realista, mas difícil". Em contraste, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reiterou a soberania de Kiev no processo, afirmando categoricamente que "Nenhuma decisão sobre a Ucrânia pode ser tomada sem a Ucrânia".

O contexto geopolítico sublinha a persistência desses esforços de alto nível, sendo esta a sexta visita de Steve Witkoff à Rússia em 2025, consolidando-o como o principal canal de comunicação da administração Trump com a presidência russa. Paralelamente, Putin utilizou o momento para emitir um severo aviso à Europa, acusando governos europeus de atuarem como empecilhos aos esforços de paz americanos e alertando sobre a prontidão militar russa caso a Europa inicie um confronto. A expectativa é que o próximo ciclo de contatos entre os EUA e a Rússia ocorra ainda em dezembro, com possíveis sedes sendo a Arábia Saudita ou a Turquia.

As análises apontam para um fosso significativo entre a proposta americana e a postura fundamental russa em relação à integridade territorial. Enquanto o diálogo avançou em aspectos secundários, o Kremlin mantém a ocupação como barreira absoluta, ecoando a posição de força militar que Putin tem defendido, inclusive após reivindicar a captura de quase 5.000 km² de território ucraniano somente em 2025. A cautela de Kiev, enfatizando sua inclusão nas decisões, sublinha a dificuldade inerente a negociações bilaterais entre Washington e Moscou que impactam diretamente a soberania ucraniana, sugerindo que um avanço imediato permanece improvável.