A República Tcheca vivenciou um momento político crucial com a vitória do partido populista de direita ANO, liderado por Andrej Babiš, nas eleições parlamentares de 3 e 4 de outubro de 2025. O ANO conquistou 80 dos 200 assentos na câmara baixa, com 34,5% dos votos, marcando o retorno de Babiš, que já foi primeiro-ministro entre 2017 e 2021. A coalizão de centro-direita Spolu obteve 52 assentos.
Com este resultado, Babiš agora se prepara para formar um governo, com indicações de que poderá buscar alianças com partidos de extrema-direita como o Liberdade e Democracia Direta (SPD) (7,9% dos votos) e os Motoristas (6,78% dos votos). Essa possibilidade tem gerado preocupações sobre a futura política externa tcheca, especialmente em relação ao apoio à Ucrânia e ao alinhamento com a União Europeia. As eleições, com participação de 68,8%, focaram em temas domésticos como crescimento econômico, cortes de impostos e preços de energia.
Analistas temem que uma coalizão envolvendo o SPD e os Motoristas possa alterar a postura tcheca em relação à Ucrânia, afastando-se do apoio atual e aproximando-se de posições mais alinhadas com Hungria e Eslováquia, que têm adotado posturas mais pró-Rússia. Babiš já expressou ceticismo quanto à adesão da Ucrânia à União Europeia, afirmando que o país "não está pronto" e que a guerra precisa terminar primeiro. Ele também sugeriu que a iniciativa tcheca de fornecimento de munição para a Ucrânia deveria ser organizada pela OTAN e que o apoio tcheco deveria ser canalizado através do orçamento europeu.
O presidente Petr Pavel, que derrotou Babiš nas eleições presidenciais de 2023, indicou que não nomeará um novo governo antes de novembro, enfatizando a necessidade de uma "direção pró-Ocidente" e a preservação das instituições democráticas. Apesar das preocupações, Babiš tem procurado tranquilizar o Ocidente sobre seu compromisso com a UE e a OTAN, declarando que seu partido é "pro-europeu e pró-OTAN". No entanto, a necessidade de formar uma coalizão com partidos mais eurocéticos, como o SPD, que defende referendos sobre a permanência na UE, apresenta um desafio.
A política externa tcheca, atualizada em 2025 com foco renovado em segurança e defesa, agora enfrenta um cenário de potencial reorientação. A estratégia de política externa de maio de 2025 enfatiza a ancoragem geopolítica do país em um mundo em mudança, com uma descrição detalhada de ameaças estratégicas. A agressão russa contra a Ucrânia em fevereiro de 2022 foi identificada como um fator redefinidor do ambiente de segurança europeu. A vitória de Babiš, com sua abordagem "Tchequia em primeiro lugar", pode introduzir uma dinâmica diferente nas relações internacionais do país. A formação de um governo estável e a definição de sua política externa serão cruciais nos próximos meses.