Pesquisas recentes indicam que a instalação de grandes complexos fotovoltaicos em regiões de clima seco pode, surpreendentemente, promover melhorias significativas nos ecossistemas locais. Este achado desafia a percepção comum de que a ocupação de vastas extensões de terra para energia solar é exclusivamente um fator de impacto ambiental negativo. Em vez de apenas consumir o espaço, as estruturas parecem estar redefinindo as condições microclimáticas de maneira favorável, atuando como um "guarda-chuva ecológico".
Um estudo detalhado focou no Parque Fotovoltaico de Gonghe, localizado na província de Qinghai, China, uma das maiores instalações solares do mundo. Utilizando o modelo DPSIR para avaliar variáveis ecológicas, os cientistas observaram um contraste notável entre as áreas sob os painéis e as zonas de controle adjacentes. As áreas diretamente sob a cobertura dos painéis e as zonas de transição apresentaram indicadores de qualidade do solo e biodiversidade superiores em comparação com as áreas externas não tocadas. O parque obteve uma classificação de "comum" (0,43 pontos) no modelo de avaliação, enquanto as áreas externas foram classificadas como "ruins" (próximas de 0,28 pontos). Os especialistas atribuem este efeito benéfico à função dos painéis em mitigar a radiação solar direta, o que reduz drasticamente a evaporação da umidade do solo em ambientes áridos, criando um microambiente mais estável e úmido.
Reforçando essa perspectiva, estudos realizados em instalações agrovoltaicas no Colorado, EUA, trouxeram resultados complementares. Pesquisadores da Universidade do Estado do Colorado e da Cornell constataram que, durante anos de seca, o crescimento da vegetação a leste dos painéis pode ser até 90% maior do que em áreas sem a proteção da sombra. Este fenômeno demonstra que o benefício da proteção contra o estresse hídrico e a sombra parcial supera a redução da luz direta para certas espécies vegetais, como as gramíneas C3 analisadas. Este benefício é particularmente relevante em pastagens semiáridas que frequentemente sofrem com a escassez hídrica.
Essa nova compreensão sugere que a energia solar em desertos não é apenas uma estratégia de transição energética, mas uma ferramenta potencial no combate à desertificação, ao criar um ambiente mais estável que apoia o crescimento vegetal e diminui a erosão do solo. A pesquisa chinesa, publicada na Scientific Reports, da Nature, indica que essas instalações podem gerar vantagens socioeconômicas pelo uso mais inteligente da terra. A comunidade científica, contudo, enfatiza a necessidade de monitoramento contínuo e de longo prazo para confirmar esses efeitos em diversas condições climáticas, sugerindo que ajustes no design, como a inclinação variável dos painéis, podem maximizar os benefícios ambientais ao longo das estações.
