A abordagem Montessori, conhecida por promover a liberdade e o desenvolvimento individual, está a ser adaptada com sucesso para a educação de cães. Esta filosofia de treino alinha-se com a crescente consciencialização sobre a senciência animal, refletida em novas legislações que reconhecem os animais como seres sencientes e promovem métodos de treino não violentos.
Juan Carlos Castilla, um reconhecido treinador de caninos, explica que este método representa uma mudança significativa, afastando-se da mera obediência para abraçar a compreensão dos cães como seres emocionais com personalidades distintas. O objetivo primordial é cultivar a autonomia e o bem-estar do cão, dentro de um ambiente de respeito mútuo. Em vez de se focar em comandos básicos, o treino inspirado em Montessori capacita os cães a gerirem as suas emoções e a desenvolverem as suas aptidões naturais. A obediência é alcançada através de atividades lúdicas e motivacionais, eliminando a necessidade de punições e fomentando uma relação mais harmoniosa e de confiança entre o tutor e o seu companheiro.
Esta metodologia não só fortalece o vínculo entre humanos e cães, como também se mostra eficaz na redução de comportamentos problemáticos, muitas vezes originados pelo tédio ou ansiedade. Estimula a função cognitiva, sendo benéfica até para cães mais idosos. A participação ativa do tutor é fundamental, exigindo observação atenta e uma profunda compreensão da comunicação canina. Castilla destaca a importância da consistência e da liderança calma e assertiva, princípios que ecoam a filosofia Montessori de um ambiente estruturado, mas flexível.
Paralelamente a estes avanços pedagógicos, Portugal tem vindo a reforçar o seu quadro legal em matéria de bem-estar animal. Desde 2017, com a alteração do Código Civil, os animais são legalmente reconhecidos como seres vivos e sencientes, e não meras "coisas". Esta legislação, que entrou em vigor em março de 2017, foi um marco, proibindo a eutanásia de animais saudáveis como controlo populacional e priorizando a esterilização e a educação socio-política.
Adicionalmente, regulamentos recentes, como a obrigatoriedade do microchip para cães, gatos e furões, e a esterilização precoce de gatos, visam controlar as populações e prevenir o abandono, promovendo uma maior responsabilidade por parte dos tutores. Estes desenvolvimentos legislativos e educacionais convergem para um objetivo comum: elevar a qualidade de vida dos animais de companhia e cultivar relações mais responsáveis e empáticas entre animais e humanos. A aplicação do método Montessori no treino de cães exemplifica uma abordagem que valoriza o desenvolvimento integral do animal, promovendo um futuro onde o respeito e a compreensão mútua definem a interação entre espécies.