Em resposta às tarifas de 35% impostas pelos Estados Unidos em produtos canadenses que não cumprem os requisitos do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (T-MEC) no início de agosto de 2025, o Canadá tem demonstrado uma notável capacidade de adaptação.
A medida, que seguiu a falta de acordo entre o governo canadense, liderado pelo Primeiro-Ministro Mark Carney, e a administração dos EUA, visava pressionar o Canadá a aderir ao pacto comercial. Como resultado direto, a porcentagem de exportações canadenses que se qualificam para isenções tarifárias aumentou significativamente. Relatórios da Fitch Ratings indicam que, em junho de 2025, 81% dos bens exportados do Canadá para os EUA atendiam aos critérios do acordo, um salto considerável em relação aos 56% de maio. Essa melhoria sugere que muitas empresas canadenses reestruturaram suas cadeias de suprimentos para evitar as novas tarifas, com a maioria dos setores agora em conformidade, exceto por aço, alumínio e a indústria automotiva. A Fitch projeta que a taxa de conformidade do Canadá poderá atingir 89% nos próximos meses.
Neste cenário de reconfiguração comercial, o México emerge como um aliado estratégico crucial para os produtores canadenses que buscam contornar as tarifas americanas. Embora o México também enfrente incertezas comerciais com os EUA, sua relação tem se desenvolvido de maneira distinta. O governo dos EUA concedeu ao México, sob a presidência de Claudia Sheinbaum, uma extensão de 90 dias em seu regime tarifário atual em 1º de agosto, facilitando a negociação de um novo acordo.
Historicamente, México e Canadá mantiveram uma relação de competição pelo mercado dos EUA, especialmente nos setores automotivo e de energia. No entanto, essa dinâmica está em transição, com uma integração crescente que pode beneficiar ambas as nações. Um exemplo claro é que um produto fabricado no Canadá com componentes mexicanos qualifica-se para isenção do T-MEC, evitando assim as tarifas dos EUA. Isso abre uma oportunidade significativa para o México fornecer insumos ao Canadá, potencialmente deslocando países como China e Índia, cujos insumos incorreriam em tarifas mais elevadas.
A evolução desta situação parece estar fomentando uma nova aliança, com o Primeiro-Ministro Mark Carney programado para visitar o México em 18 de setembro. Desde sua eleição, Carney expressou o desejo de ampliar as relações comerciais para além dos EUA, e seus ministros das Relações Exteriores e Finanças já realizaram uma visita diplomática inicial em preparação para esta cúpula econômica.
A sustentabilidade desta relação comercial emergente depende de dois fatores principais: a contínua adesão do Presidente Trump à isenção de produtos em conformidade com o T-MEC, permitindo cadeias de suprimentos complementares entre México e Canadá, e a próxima revisão do tratado T-MEC, agendada para meados do próximo ano. O economista-chefe da BMO, Douglas Porter, comentou que o Presidente Trump tem parcialmente desconsiderado o T-MEC com tarifas e ameaças, sugerindo que Canadá e México podem precisar fazer concessões para preservar o acordo.
Paralelamente, o governo canadense mantém seu diálogo com a Casa Branca. Em 21 de agosto, o gabinete do Primeiro-Ministro anunciou uma ligação entre o Primeiro-Ministro Carney e o Presidente Trump, onde discutiram os desafios comerciais atuais, oportunidades compartilhadas e prioridades na nova relação econômica e de segurança entre Canadá e EUA, além de alavancar a liderança dos EUA para apoiar a paz na Ucrânia.