O Secretário Executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), Simon Stiell, destacou o papel transformador da Inteligência Artificial (IA) no combate às alterações climáticas, ao mesmo tempo que alertou para a necessidade premente de regulamentação. Stiell descreveu a IA como um "multiplicador de força" capaz de otimizar a eficiência energética e impulsionar inovações para a redução de emissões de carbono.
A IA oferece um potencial significativo para a gestão de microrredes, o mapeamento de riscos climáticos e o desenvolvimento de infraestruturas resilientes. Esta perspetiva alinha-se com a crescente consciencialização de que a tecnologia, quando aplicada criteriosamente, pode acelerar o progresso em direção a um futuro mais sustentável. O investimento global em energias renováveis tem demonstrado um crescimento notável, tendo multiplicado por dez na última década e atingindo 2 biliões de dólares no ano passado. No entanto, a agência da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA) alerta que a infraestrutura associada à IA poderá em breve consumir seis vezes mais água do que a Dinamarca, um país com 6 milhões de habitantes, sublinhando a urgência de abordar o impacto ambiental da tecnologia.
A discussão sobre a regulamentação da IA ganha força globalmente, com a ONU a procurar estabelecer um caminho para gerir o seu desenvolvimento e aplicação de forma responsável. A criação de quadros regulatórios claros é fundamental para maximizar os benefícios da IA e mitigar os seus potenciais impactos negativos, como o elevado consumo de energia e água. A expansão dos centros de dados, essenciais para a IA, levanta preocupações ambientais significativas. Estudos indicam que a utilização de chatbots pode consumir meio litro de água por e-mail gerado, e a procura global de eletricidade por centros de dados deverá mais do que duplicar até 2030, com a IA a ser o principal motor desta tendência.
Apesar dos desafios, a transição para uma economia de baixo carbono já gera benefícios tangíveis. A Espanha, por exemplo, registou um aumento de 859% nos seus investimentos em energia renovável numa década, posicionando-se como um líder global em energia eólica. A inteligência artificial, quando aplicada estrategicamente, pode ser uma aliada poderosa na gestão de recursos naturais e na previsão de desastres. A ONU, através de iniciativas como o projeto "Alertas Antecipados para Todos", procura capitalizar o potencial da IA para proteger populações contra eventos climáticos extremos. A colaboração internacional e a definição de políticas robustas são indispensáveis para navegar neste novo cenário tecnológico e climático, garantindo que a IA seja utilizada de forma ética e sustentável.