Análises recentes de amostras do asteroide Ryugu, coletadas pela missão Hayabusa2 do Japão, revelaram evidências de fluxo de água em seu corpo parental mais de um bilhão de anos após sua formação. Esta descoberta desafia a crença anterior de que a atividade hídrica em asteroides se limitava aos estágios iniciais da história do Sistema Solar. A pesquisa, publicada na revista Nature, utilizou a análise isotópica de lutécio (Lu) e háfnio (Hf) para datar o evento de fluxo de fluidos. As conclusões sugerem que um impacto em um corpo parental maior de Ryugu fraturou a rocha e derreteu gelo enterrado, permitindo que a água líquida percolasse através do asteroide. Esse prolongado período de presença de água em Ryugu implica que asteroides semelhantes podem ter entregado água à Terra ao longo de períodos extensos, influenciando significativamente os oceanos e a atmosfera primitivos do nosso planeta.
A missão Hayabusa2, operada pela Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA), retornou com sucesso amostras de Ryugu em dezembro de 2020. Essas amostras têm fornecido informações valiosas sobre a composição e a história de asteroides primitivos, aprimorando nossa compreensão do Sistema Solar inicial. A descoberta de que Ryugu preservou um registro de atividade hídrica muito mais tarde do que o esperado, possivelmente desencadeada por um impacto que derreteu gelo e abriu fissuras, sugere que asteroides ricos em carbono podem ter retido gelo por muito mais tempo do que se supunha anteriormente. Estima-se que esses corpos possam ter entregado duas a três vezes mais água à Terra primitiva do que os modelos atuais preveem.
Essa persistência de água em asteroides por mais de um bilhão de anos é notável e indica que os blocos de construção da Terra eram significativamente mais úmidos do que imaginávamos. A análise isotópica de Lu-Hf, que funciona como um relógio geológico, revelou uma proporção inesperadamente alta de háfnio-176 em relação ao lutécio-176, indicando que fluidos estavam ativamente removendo lutécio das rochas. Essa descoberta não apenas aprofunda nosso conhecimento sobre a evolução dos asteroides, mas também exige uma reavaliação dos mecanismos pelos quais a Terra e outros planetas adquiriram sua água e outros voláteis.
A pesquisa em andamento com as amostras de Ryugu, e a comparação com dados de missões como a OSIRIS-REx da NASA em Bennu, continuará a desvendar os segredos da formação planetária e da origem da vida em nosso Sistema Solar.