Fenômenos geológicos conhecidos como "círculos de fadas", observados em diversas partes do mundo, como Brasil, Rússia, Namíbia, Austrália e Estados Unidos, estão cada vez mais associados à presença de hidrogênio natural subterrâneo. Uma pesquisa inovadora da Universidade de Viena, publicada na revista Geology, sugere uma ligação direta entre as dimensões desses círculos e as características das fontes de hidrogênio profundo.
Esses círculos, que podem variar de alguns metros a centenas de metros de diâmetro, são caracterizados por áreas de vegetação esparsa. Por anos, a ciência já sabia que esses locais emitiam hidrogênio natural, indicando reservatórios subterrâneos, mas os mecanismos exatos de sua formação e a correlação com as fontes de gás permaneciam um mistério. O estudo utilizou simulações computacionais geomecânicas para modelar as interações complexas entre o fluxo de gás e água nos sedimentos do solo.
As descobertas indicam que o hidrogênio, ao infiltrar-se em camadas sedimentares saturadas de água, desloca-a, causando um levantamento da superfície. Quando o fluxo de hidrogênio cessa, a pressão diminui, levando à compactação e subsidência do solo, o que resulta nas depressões características dos círculos de fadas. Essa compreensão abre novas perspectivas, pois as dimensões dessas depressões podem servir como indicadores valiosos para a localização de fontes de hidrogênio natural.
O hidrogênio natural, também conhecido como "hidrogênio branco" ou "dourado", é um recurso gerado geologicamente, com um impacto ambiental mínimo em termos de emissões de carbono, o que o posiciona como uma promissora fonte de energia sustentável. O setor energético tem demonstrado um interesse crescente no hidrogênio natural, especialmente em comparação com outras formas de produção de hidrogênio, que variam em suas pegadas ambientais.
Estudos recentes, utilizando inteligência artificial para identificar esses padrões em escala global, expandiram o conhecimento sobre a distribuição dos círculos de fadas, encontrando-os em 15 países. Essa tecnologia auxiliou na análise de imagens de satélite e dados geoespaciais, revelando padrões que antes passavam despercebidos. A pesquisa também aponta que esses círculos podem desempenhar um papel na estabilização de ecossistemas em áreas áridas, aumentando a resiliência a eventos extremos como secas e inundações.
A presença de círculos de fadas em locais áridos, com altas temperaturas e baixo teor de nutrientes no solo, com precipitação anual inferior a 200 mm, é um fator a ser considerado. O uso excessivo de águas subterrâneas em regiões áridas pode, inclusive, perturbar essas formações, como apontado por pesquisadores do CSIC. Embora os avanços sejam significativos, pesquisas adicionais são necessárias para compreender plenamente os processos de formação dos círculos de fadas e sua utilidade como indicadores de hidrogênio natural.
Futuros estudos devem incluir simulações com diferentes tipos de solo e investigações de campo para explorar o papel das reações químicas na subsidência do solo. Essa descoberta representa um avanço considerável na compreensão do hidrogênio natural e seu potencial papel na transição global para uma matriz energética sustentável, oferecendo um vislumbre de um futuro energético mais limpo e promissor.