Investigadores do Helmholtz-Zentrum Dresden-Rossendorf (HZDR) propuseram uma ligação inovadora entre a atividade magnética do Sol e as forças de maré exercidas pelos planetas do nosso sistema solar. O modelo sugere que o alinhamento periódico de planetas como Vénus, Terra e Júpiter, que ocorre aproximadamente a cada 11 anos, influencia subtilmente o campo magnético solar. Esta interação planetária sincroniza as flutuações na atividade solar, o que pode afetar fenómenos como as auroras e as tempestades solares.
O estudo, que se baseia em dez anos de desenvolvimento de modelos, postula que estas forças de maré planetárias sincronizam os ciclos magnéticos do Sol e, crucialmente, suprimem a sua atividade mais extrema. Uma descoberta chave é a ligação a uma flutuação de curto período conhecida como Oscilação Quase-Bienal (QBO), com um período de aproximadamente 1.723 anos. A QBO sobrepõe-se à oscilação mais longa do campo magnético solar, encurtando os períodos de atividade máxima e reduzindo a probabilidade de eventos solares devastadores. Esta modulação pela QBO é vista como um fator que contribui para a relativa estabilidade do ambiente de suporte à vida na Terra. O modelo desenvolvido pela equipa do HZDR, liderada por Frank Stefani, sugere que o Sol é cerca de cinco vezes menos ativo magneticamente do que outras estrelas semelhantes, uma característica que pode ser atribuída à influência planetária. Os planetas atuam como "pacemakers", fornecendo impulsos rítmicos de maré que mantêm o motor magnético interno do Sol em sincronia. A sobreposição de vários ciclos planetários resulta em flutuações periódicas de diferentes durações, que correspondem às observadas no Sol. A consistência e o poder explicativo deste modelo são considerados impressionantes pelos investigadores, oferecendo uma nova perspetiva sobre a complexa interação entre os corpos celestes e o papel fundamental que os ritmos cósmicos dos planetas desempenham na modulação da natureza do nosso Sol.
Historicamente, a atividade solar intensa pode perturbar o campo magnético da Terra, afetando as comunicações e criando exibições espetaculares de auroras. Eventos solares extremos, como a tempestade de Carrington em 1859, demonstraram o impacto da atividade solar nas tecnologias terrestres, causando falhas nos sistemas de telégrafo. Mais recentemente, em 1989, uma poderosa erupção solar causou uma tempestade geomagnética que resultou num corte de energia de vários dias no Quebec, Canadá. Esta nova compreensão destas ligações cósmicas não só aprofunda o nosso conhecimento sobre o Sol, mas também sobre os mecanismos que moldam o ambiente espacial da Terra e, potencialmente, influenciam a vida no nosso planeta.