Pesquisadores dos Estados Unidos estão conduzindo um estudo clínico nacional inovador para investigar o potencial das gotas de atropina em retardar o início da miopia em crianças. O estudo, financiado com US$ 25 milhões em subvenções do National Institutes of Health (NIH), tem como objetivo recrutar mais de 600 crianças entre 6 e 11 anos em 14 centros de pesquisa nos EUA.
Os participantes serão aleatoriamente designados para receber um placebo ou uma solução de atropina a 0,05% diariamente durante dois anos. A hipótese central da pesquisa é que a atropina possa reduzir pela metade a proporção de crianças que desenvolvem miopia, de 20% para 10%, e diminuir o crescimento do olho em 30%. A miopia, um distúrbio visual que afeta a capacidade de enxergar objetos distantes com clareza, tem apresentado um aumento alarmante em sua prevalência global.
Estima-se que um terço da população adulta nos EUA já seja míope, com projeções indicando que até 2050 metade da população mundial poderá ser afetada. Fatores como a redução do tempo passado ao ar livre e o aumento do uso de dispositivos eletrônicos são apontados como contribuintes significativos para essa tendência crescente. A pandemia de COVID-19, em particular, exacerbou essa situação, com estudos indicando um aumento substancial nos casos de miopia em crianças durante os períodos de confinamento e ensino remoto.
Os riscos associados à alta miopia são consideráveis, incluindo um maior risco de desenvolver condições oculares graves como descolamento de retina, glaucoma e catarata, que podem levar à perda irreversível da visão. Além disso, a miopia acarreta custos econômicos significativos, estimados entre US$ 4 bilhões e US$ 7 bilhões anualmente nos EUA, abrangendo despesas com diagnóstico, tratamento e perda de produtividade.
A pesquisa atual se baseia em trabalhos anteriores que demonstraram a eficácia da atropina em retardar a progressão da miopia já estabelecida. No entanto, este estudo foca na administração preventiva para crianças com alto risco de desenvolver a condição. Crianças com uma diminuição específica em sua hipermetropia até a terceira série são consideradas em maior risco de desenvolver miopia até a oitava série. O olho passa por seu crescimento mais rápido pouco antes do início da miopia, que tipicamente surge entre os 8 e 10 anos e pode progredir até por volta dos 16 anos.
Especialistas como Jeffrey Walline, co-principal investigador do estudo e professor de optometria na The Ohio State University, destacam a importância crucial da intervenção precoce. "A miopia afeta um número tão grande de pessoas, e mesmo que os efeitos para os indivíduos não sejam particularmente graves, se pudermos salvar a visão de apenas algumas pessoas, acho que é fundamental", afirmou Walline. A inscrição de participantes para este estudo está em andamento e se estenderá até o final de 2025, com os resultados esperados para 2027. Paralelamente, pesquisas indicam que o aumento do tempo ao ar livre, com pelo menos 40 minutos diários de atividades externas, pode reduzir significativamente o risco de miopia, sendo uma estratégia complementar valiosa. A recomendação geral é que as crianças passem cerca de duas a três horas por dia em ambientes externos para promover a saúde ocular e geral.