No início de outubro de 2025, o Centro Nacional de Investigações Oncológicas (CNIO) anunciou a criação do 'reparoma humano', um catálogo exaustivo que mapeia a influência de aproximadamente 20.000 genes humanos na reparação de quebras de dupla hélice no DNA. Esta pesquisa, publicada na revista Science, detalha as 'cicatrizes' mutacionais deixadas após o processo de reparo do DNA, abrindo novas avenidas para terapias personalizadas contra o cancro e avanços em tecnologias de edição genética.
O projeto envolveu a inativação sistemática de cada gene humano em quase 20.000 linhagens celulares únicas. Estas células foram submetidas a quebras de dupla hélice induzidas por CRISPR-Cas9, permitindo uma manipulação precisa do genoma. A análise subsequente das 'cicatrizes' mutacionais resultantes, através de sequenciamento de alto rendimento e análises computacionais avançadas, permitiu a montagem deste atlas genético sem precedentes. O portal REPAIRome está agora acessível ao público, oferecendo à comunidade científica global uma ferramenta poderosa para investigar a reparação do DNA.
A relevância desta descoberta reside nas suas profundas implicações clínicas e biotecnológicas. A compreensão detalhada de como os genes influenciam a reparação do DNA é crucial para o desenvolvimento de tratamentos oncológicos mais eficazes, especialmente aqueles que visam superar a resistência tumoral. Além disso, o 'reparoma humano' promete refinar as tecnologias de edição genética, minimizando efeitos off-target e garantindo maior precisão em correções genéticas. A pesquisa foi financiada por diversas entidades públicas e europeias, incluindo o Ministério da Ciência, Inovação e Universidades e a Agência de Investigação Espanhola (AEI), com apoio do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e fundações privadas.
Os pesquisadores do CNIO concluíram que o 'reparoma humano' é um recurso valioso que impulsionará a pesquisa em vias de reparação do DNA, estabilidade genómica e respostas celulares ao stress genotóxico. Este atlas estabelece um novo padrão na ligação de alterações genotípicas a consequências fenotípicas, oferecendo um caminho tangível para revolucionar o tratamento do cancro e a tecnologia de edição genética. O trabalho também destaca a importância fundamental de compreender a coreografia molecular por trás das vias de reparação, tanto para a biologia básica quanto para aplicações clínicas.
A identificação de paisagens de reparo alteradas associadas à ausência ou disfunção de genes permite estratégias de oncologia de precisão para interromper seletivamente as vias de reparo do tumor, superando a resistência e melhorando os resultados dos pacientes. Adicionalmente, o detalhado panorama genético fornecido pelo REPAIRome abre caminho para o aprimoramento de protocolos de edição, minimizando efeitos off-target e alcançando correções genéticas precisas.