O enigma da composição de Mercúrio, caracterizado por um núcleo metálico desproporcionalmente grande (cerca de 70% de sua massa) e um manto rochoso surpreendentemente fino, tem intrigado cientistas por décadas.
Uma nova pesquisa, publicada na revista Nature Astronomy e liderada pelo astrônomo Patrick Franco, propõe uma explicação mais elegante para essa peculiaridade. Utilizando simulações sofisticadas de hidrodinâmica de partículas suavizadas, os modelos revelam que a distinta massa e a proporção entre silício e ferro em Mercúrio podem advir de uma colisão entre dois protoplanetas de massa comparável. Esta descoberta sugere que a formação de Mercúrio não requer eventos cósmicos excepcionalmente raros, mas sim um impacto mais suave e rasante entre corpos de tamanho similar.
Essa perspectiva contrasta com modelos anteriores, como uma investigação de 2017, que indicava que a obtenção de análogos de Mercúrio em simulações era uma ocorrência rara, encontrada em apenas cerca de 9 de 110 simulações. As descobertas atuais oferecem um caminho mais acessível, sugerindo que o ambiente dinâmico do Sistema Solar primitivo, repleto de protoplanetas em colisão, poderia facilmente gerar corpos com as características únicas de Mercúrio.
O estudo também postula que material ejetado durante tal colisão poderia ter sido incorporado a outro planeta em formação, potencialmente Vênus, uma hipótese que aguarda investigação adicional. A missão BepiColombo, uma colaboração entre a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA), está preparada para fornecer dados cruciais para validar essas novas teorias, com objetivos que incluem um estudo abrangente da magnetosfera, estrutura interna e química superficial de Mercúrio.
Ao integrar dados de simulação com observações de missões como a BepiColombo, os cientistas aprofundam sua compreensão da formação de planetas rochosos. Esta pesquisa não apenas ilumina as características peculiares de Mercúrio, mas também contribui para uma apreciação mais ampla da diversidade de arquiteturas planetárias que emergem dos processos universais de evolução cósmica.