A saúde dos ecossistemas marinhos atingiu um ponto de inflexão crítico, com a acidificação dos oceanos ultrapassando um limite de segurança fundamental. Um relatório recente do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático (PIK) revela que a concentração de aragonita nos oceanos caiu para menos de 80% dos níveis pré-industriais, marcando a transgressão do sétimo de nove “limites planetários” essenciais para a estabilidade da Terra. O conceito de limites planetários, introduzido pela primeira vez em 2009 por cientistas renomados, identifica nove processos cruciais para a estabilidade do planeta. Até o momento, seis desses limites já haviam sido ultrapassados, incluindo as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a alteração dos ciclos biogeoquímicos. A acidificação dos oceanos, impulsionada principalmente pela absorção de dióxido de carbono (CO2) proveniente da queima de combustíveis fósseis, emergiu como uma ameaça significativa e recém-reconhecida à saúde planetária. Desde o início da era industrial, o pH da superfície do oceano diminuiu aproximadamente 0,1 unidade, o que se traduz em um aumento de 30% a 40% na acidez. Essa mudança química representa um desafio severo para organismos marinhos que dependem de carbonato de cálcio para formar suas conchas e esqueletos, como corais, moluscos e espécies cruciais de plâncton. A dificuldade crescente na formação dessas estruturas vitais pode desestabilizar cadeias alimentares inteiras e impactar a segurança alimentar de comunidades costeiras em todo o mundo.
A absorção de CO2 atmosférico é a principal causa dessa acidificação. As outras seis fronteiras planetárias já violadas incluem as mudanças climáticas, o desmatamento (mudanças no uso da terra), a perda de biodiversidade (integridade da biosfera), a introdução de substâncias sintéticas no ambiente (novas entidades), a escassez de água doce e o desequilíbrio do ciclo do nitrogênio e fósforo (fluxos biogeoquímicos). As duas fronteiras que permanecem dentro dos limites seguros são a carga de aerossóis na atmosfera (poluição do ar) e a integridade da camada de ozônio estratosférico, ambas devido a ações internacionais coordenadas, como o Protocolo de Montreal.
A crescente acidificação dos oceanos ressalta a necessidade urgente de reduzir as emissões de CO2 e implementar medidas de proteção para os ecossistemas marinhos. Iniciativas como a criação de Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) e a ratificação de acordos internacionais, como o Tratado do Alto Mar, são passos importantes. No entanto, a velocidade e a coordenação das ações precisam ser significativamente aceleradas para mitigar os efeitos da acidificação e preservar a biodiversidade marinha. A restauração de ecossistemas como florestas de algas marinhas e manguezais, que atuam como soluções de "carbono azul" ao sequestrar CO2, também oferece um caminho promissor para a recuperação ambiental. A situação atual evidencia a profunda interconexão dos sistemas terrestres e a necessidade de uma abordagem abrangente para os desafios ambientais, visando garantir a sustentabilidade do planeta para as gerações futuras.