As baleias-da-Groenlândia (Balaena mysticetus) são notáveis por sua excepcional longevidade, sendo consideradas os mamíferos mais longevos do planeta, com uma expectativa de vida que pode ultrapassar os 200 anos. Essa longevidade foi confirmada por meio de métodos científicos, como a análise de pontas de arpão antigas encontradas em seus corpos e o estudo de cristais nas lentes oculares, que revelaram indivíduos com idades entre 135 e 180 anos, e um caso excepcional de mais de 200 anos. Uma descoberta em 2007 de um arpão do final do século XIX em uma baleia, que a estimou em 115 anos, é um testemunho dessa longevidade extraordinária.
O segredo por trás dessa longevidade reside em adaptações genéticas únicas. Pesquisas identificaram a duplicação de um gene chamado CDKN2C (p18INK4C) em seu genoma, que regula o ciclo celular, interrompendo a divisão celular e prevenindo a morte celular programada, o que contribui para a resistência ao câncer e o envelhecimento retardado. A presença elevada de proteínas como CIRBP e RPA2 auxilia na reparação eficiente do DNA, mantendo a integridade celular ao longo dos séculos. Essas descobertas sugerem que a longa vida das baleias-da-Groenlândia pode ter evoluído há cerca de 4 a 5 milhões de anos, lançando luz sobre o Paradoxo de Peto, que questiona por que animais maiores e de vida mais longa não desenvolvem proporcionalmente mais câncer. A capacidade dessas baleias de manter a saúde por tanto tempo oferece insights valiosos sobre os mecanismos evolutivos que governam o envelhecimento e a resistência a doenças.
Esses gigantes do Ártico são perfeitamente adaptados ao seu ambiente gélido. Com corpos maciços e uma espessa camada de gordura, que pode atingir até 50 centímetros, garantem isolamento térmico e reserva de energia. Sua ausência de barbatana dorsal facilita a navegação sob o gelo marinho, e seu crânio robusto, em forma de arco, permite quebrar blocos de gelo de até 20 centímetros de espessura para respirar. Alimentam-se de plâncton, filtrando-o com seus longos barbilhos, e habitam as águas frias do Ártico e Subártico, como os mares de Bering, Chukchi e Beaufort.
Historicamente, as baleias-da-Groenlândia foram alvo da caça comercial por seu óleo, carne e barbilhos, o que levou a uma redução drástica de suas populações. No entanto, graças a esforços de conservação e à proibição da caça comercial a partir da década de 1930, muitas populações, especialmente a do Ártico Ocidental, mostraram uma recuperação notável. Atualmente, a caça de subsistência por comunidades indígenas do Alasca e da Rússia é regulamentada por cotas estabelecidas pela Comissão Baleeira Internacional (IWC), garantindo a sustentabilidade dessas práticas culturais.
Apesar da recuperação geral, algumas subpopulações, como as encontradas perto da Groenlândia ou no Mar de Okhotsk, ainda enfrentam ameaças e são consideradas em perigo. As baleias-da-Groenlândia continuam a enfrentar desafios modernos, como as mudanças climáticas, a poluição, o aumento do tráfego marítimo e a exploração de recursos em seus habitats, ressaltando a importância contínua de sua proteção.
As baleias-da-Groenlândia, com sua resiliência e longevidade, são um lembrete da profunda sabedoria da vida e de sua capacidade inata de adaptação e prosperidade em ambientes desafiadores. Sua existência contínua é um testemunho da força da evolução e da importância de coexistir harmoniosamente com os ritmos naturais do planeta.