A busca por uma vida longa e saudável é inspirada pelas histórias de centenários suecos, cujos padrões de envelhecimento estão sob escrutínio científico. Um estudo abrangente do Karolinska Institutet, que analisou a saúde de mais de 270.000 indivíduos nascidos entre 1920 e 1922, indica que atingir os 100 anos não implica necessariamente uma vida de doença. Pelo contrário, os centenários demonstram uma notável capacidade de retardar o acúmulo de enfermidades e exibem uma resiliência biológica superior.
Os dados, que acompanharam os participantes desde os 70 anos, revelam que aqueles que viveram até os 100 anos apresentaram uma incidência significativamente menor de doenças aos 85 anos em comparação com seus contemporâneos que faleceram mais cedo. Condições como as cardiovasculares e cerebrovasculares, frequentemente associadas ao declínio na terceira idade, manifestaram-se mais tardiamente e com menor prevalência neste grupo. Um padrão notável é a estabilização do estado de saúde dos centenários a partir dos 90 anos, em contraste com o declínio mais acentuado observado em outros idosos, sinalizando uma profunda resistência fisiológica que se manifesta precocemente, por volta dos 70 anos.
Karin Modig, professora associada no Instituto de Medicina Ambiental do Karolinska Institutet e uma das pesquisadoras líderes do estudo, enfatiza que essas descobertas desafiam a percepção comum de que uma vida mais longa acarreta um fardo maior de doenças. "Nossa investigação demonstra que os centenários seguem uma curva de envelhecimento distinta, com progressão mais lenta de doenças e maior resistência aos males comuns relacionados à idade", explica Modig. Ela sugere que essa longevidade excepcional pode ser atribuída a uma sinergia favorável entre predisposições genéticas, escolhas de estilo de vida e influências ambientais.
A ciência tem identificado biomarcadores sanguíneos que podem oferecer pistas sobre a longevidade. Estudos indicam que futuros centenários tendem a manter níveis mais equilibrados e saudáveis em marcadores como glicose, creatinina, ácido úrico, enzimas hepáticas (AST/ALT), fosfatase alcalina, lactato desidrogenase (LDH) e capacidade total de ligação do ferro, mesmo em idades mais jovens, como os 60 anos. A manutenção desses indicadores dentro de uma faixa moderada e estável, mais do que valores extremos, parece ser um fator distintivo.
Complementarmente, o conceito de "healthspan" – o período de vida vivido com saúde e livre de doenças incapacitantes – emerge como um objetivo tão ou mais importante que a mera extensão da vida. Pesquisas do Ageing Research Centre do Karolinska Institutet associam dietas ricas em vegetais, frutas, grãos integrais, peixes e nozes a um adiamento significativo no surgimento de doenças crônicas, incluindo demência e enfermidades cardíacas. Essa abordagem nutricional, que prioriza a redução da inflamação e o fornecimento de nutrientes essenciais, contribui para um envelhecimento mais saudável.
O contexto social e ambiental da Suécia também desempenha um papel fundamental. Um sistema de saúde robusto, a qualidade do ar, um forte senso de comunidade e práticas culturais como o "fika" – um ritual de pausa social para café e convívio – criam um ambiente que nutre tanto o bem-estar físico quanto o mental. Esses fatores, aliados a uma filosofia de moderação e equilíbrio ("lagom"), cultivam um estilo de vida que naturalmente favorece a resiliência e a longevidade.
Em essência, os centenários suecos oferecem um modelo de envelhecimento resiliente. Sua trajetória de vida sublinha a importância de uma abordagem integrada, onde a predisposição biológica se harmoniza com escolhas conscientes de estilo de vida. Ao compreendermos e aplicarmos esses princípios, podemos aspirar não apenas a viver mais, mas a viver melhor, cultivando a vitalidade e o bem-estar ao longo de toda a jornada.