O Mistério do "Scent Rolling": Por Que os Cães Adoram Rolar em Coisas Fedorentas

A inclinação dos cães domésticos em se esfregar em montes de fezes, restos de peixes podres, carne em decomposição e outras substâncias que, do ponto de vista humano, são repugnantes e malcheirosas, é um comportamento conhecido na cinologia como "scent rolling" ou "rolar no cheiro". É crucial notar que essa prática não se restringe apenas aos cães. Raposas e coiotes também exibem ações semelhantes, sugerindo uma importância evolutiva significativa para toda a família Canidae.

Este é um reflexo profundamente enraizado, que remonta aos instintos de sobrevivência dos ancestrais caninos selvagens. Especialistas sugerem que esses animais utilizavam odores fortes para camuflar o seu próprio cheiro. Essa tática permitia que se aproximassem sorrateiramente de presas em potencial. Ao se esfregarem em excrementos ou carcaças, os canídeos selvagens procuravam sobrepor seu aroma natural por um odor estranho, dificultando a detecção por parte das vítimas.

Embora esta hipótese da camuflagem seja amplamente aceita, alguns especialistas a consideram incompleta. Além da necessidade de mascarar o cheiro, existem outras suposições que merecem atenção.

Pesquisadores levantam a hipótese de que rolar em odores alheios pode funcionar como um meio de comunicação dentro da matilha ou uma forma de demonstrar status social. Por exemplo, observações de cães-selvagens-africanos (também chamados de cães hienoides) revelaram que as fêmeas, ao se juntarem a um grupo, rolavam no chão que havia sido marcado pelos machos.

Outra teoria relevante, sustentada por uma pesquisa de 2016 conduzida pelo ecologista Max Allen, da Universidade de Wisconsin, sugere que os animais podem usar o cheiro de um predador maior como uma forma de camuflagem defensiva. Allen documentou como raposas-cinzentas esfregavam-se em vestígios de urina de pumas para afugentar coiotes, que são predadores maiores que as raposas e competidores diretos por recursos.

Há também a perspectiva de que, mesmo que as razões originais para o "scent rolling" estivessem ligadas à sobrevivência, hoje o ato pode ser simplesmente uma fonte de prazer para o animal. Isso se deve ao fato de que o olfato é uma parte fundamental da percepção sensorial canina do mundo. O sentido do olfato dos cães é fenomenal: seus narizes contêm cerca de 300 milhões de receptores, enquanto os humanos, por exemplo, possuem apenas cerca de 6 milhões.

Assim, é altamente provável que o "scent rolling" tenha causas multifatoriais, abrangendo desde a camuflagem e o sinal social até a simples obtenção de satisfação sensorial. É fundamental, portanto, que os tutores compreendam a natureza desse comportamento e evitem punir seus animais de estimação por essa manifestação instintiva e natural.