O recente lançamento do filme brasileiro "Caramelo" (2025), que coloca um cão leal no centro da narrativa, reacendeu a discussão sobre a ligação inigualável entre humanos e seus companheiros caninos. Esta produção cinematográfica, que aborda a resiliência e o apoio diante de enfermidades graves, destaca as capacidades sensoriais únicas dos cães. Em particular, o seu olfato fenomenal pode atuar como um preditor precoce de patologias humanas. O sistema olfativo dos canídeos é notavelmente complexo, possuindo centenas de milhões de recetores que lhes permitem captar os mais ínfimos compostos orgânicos voláteis (COVs) exalados pelo organismo durante o desenvolvimento de processos patológicos.
A ciência tem consistentemente validado a alta eficácia de cães especialmente treinados na identificação de biomarcadores associados a diversas condições de saúde. Existem inúmeros casos bem-sucedidos documentados da deteção de marcadores de doenças oncológicas, abrangendo o cancro da mama e o cancro da próstata. Além disso, o faro apurado destes animais revela-se crucial para indivíduos diabéticos, pois são capazes de alertar sobre variações perigosas nos níveis de glicose no sangue. Um campo de investigação que tem gerado particular interesse é a capacidade dos cães de reconhecerem alterações neurodegenerativas.
Estudos conduzidos por investigadores das Universidades de Bristol e Manchester, em colaboração com a organização Medical Detection Dogs, demonstraram que os cães conseguem identificar a Doença de Parkinson (DP) muito antes do surgimento dos sintomas clínicos. A alteração na composição do sebo (óleo da pele), associada à DP, funciona como um sinal claro para eles. Numa série de experiências que envolveram a análise de esfregaços cutâneos, os cães alcançaram uma sensibilidade de deteção da DP entre 70% e 80%, com uma especificidade que atingiu 98%. Estes resultados abrem caminhos promissores para o desenvolvimento de métodos de diagnóstico não invasivos, posicionando os animais como indicadores biológicos vivos de processos internos subtis.
Para além da análise química, estes companheiros são observadores atentos dos padrões comportamentais. Eles registam as mínimas mudanças na postura, na entoação da voz e na rotina diária dos seus donos, o que complementa a sua "avaliação diagnóstica" – trata-se de uma leitura complexa e integrada do estado de saúde. É fundamental sublinhar que um alerta dado pelo animal nunca substitui a perícia médica profissional. Contudo, pode constituir um ponto de partida valioso para procurar assistência especializada em tempo útil. Isto reforça a importância de valorizarmos os sinais subtis, quer aqueles que emanam de nós mesmos, quer aqueles que nos são transmitidos por quem nos ama, como uma chave essencial para a manutenção do equilíbrio e da saúde.