Maratonistas: O Cérebro que se Alimenta de Si Mesmo em Busca de Energia Extra

Editado por: Elena HealthEnergy

A impressionante resistência dos maratonistas revela um mecanismo de sobrevivência cerebral até então pouco compreendido. Pesquisas recentes, publicadas na Nature Metabolism, indicam que, em situações de esforço extremo e esgotamento de reservas de glicose, o cérebro humano pode recorrer à mielina, a substância gordurosa que protege os neurônios, como fonte de energia emergencial. Este fenômeno, apelidado de "plasticidade metabólica da mielina", demonstra a notável capacidade de adaptação do nosso sistema nervoso.

A mielina, que consiste em aproximadamente 70-75% de lipídios e é essencial para a transmissão rápida e eficiente dos impulsos nervosos, forma uma bainha isolante ao redor dos axônios neuronais. Quando a demanda energética ultrapassa os suprimentos habituais, como ocorre durante uma maratona, células especializadas chamadas oligodendrócitos podem utilizar a própria mielina como combustível. Essa descoberta desafia a visão tradicional de que o cérebro evita o uso de gorduras como fonte primária de energia, sugerindo um papel adaptativo para a mielina em condições de privação energética severa.

Estudos utilizando ressonância magnética em maratonistas antes e após as provas identificaram uma diminuição temporária da mielina em áreas cerebrais associadas ao controle motor e à integração sensorial e emocional. Felizmente, este processo é reversível, com os níveis de mielina retornando ao normal entre duas semanas e dois meses após o evento, evidenciando a resiliência e a capacidade de regeneração do cérebro.

No Brasil, a paixão pela corrida é evidente, com mais de 2,8 mil corridas de rua oficiais por ano e uma expressiva comunidade de atletas na plataforma Strava, que conta com 19 milhões de usuários brasileiros, tornando o país o segundo maior centro para atletas no aplicativo. Essa popularidade crescente sublinha a importância de compreender as adaptações fisiológicas que ocorrem durante o exercício de alta intensidade. Especialistas como a Dra. Melissa Ulhôa, especialista em fisiologia, ressaltam que o corpo do maratonista, através de treinamento intenso e progressivo, desenvolve uma adaptação notável para lidar com demandas extremas, utilizando fontes alternativas de energia como corpos cetônicos e lactato quando os estoques de carboidratos se esgotam.

Essa capacidade de o cérebro se adaptar e se recuperar demonstra a intrínseca plasticidade neural, um processo contínuo que permite ao sistema nervoso modificar sua estrutura e função ao longo da vida em resposta a novas experiências e demandas. Embora o consumo de mielina seja um mecanismo de sobrevivência, a recuperação e nutrição adequadas após esforços extremos são cruciais para apoiar a saúde cerebral e a restauração completa das funções. A jornada de um maratonista é, portanto, um testemunho da extraordinária capacidade do corpo humano de se adaptar e superar limites, revelando a complexa e fascinante inteligência biológica que nos sustenta.

Fontes

  • Jornal Diário do Grande ABC

  • Go Outside

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