A prática habitual de reclamar pode reconfigurar a estrutura e o funcionamento do cérebro, direcionando-o para um padrão de negatividade. Essa transformação ocorre devido à neuroplasticidade, a capacidade do cérebro de se adaptar e fortalecer conexões neurais ativadas com frequência. Ao reclamar, treinamos o cérebro a focar em problemas em detrimento do que está indo bem.
Segundo a psicóloga Katherine Sorroche, a ativação repetida de circuitos neurais associados a emoções negativas solidifica essas vias. Com o tempo, áreas cerebrais como a amígdala (processamento emocional) e o hipocampo (memória) podem ser impactadas. Essa alteração modifica a percepção e a reação a eventos cotidianos, tornando a negatividade o caminho mais automático para o cérebro. O neurocirurgião Fernando Gomes corrobora essa visão, explicando que a reclamação constante pode reprogramar o cérebro, criando um ciclo vicioso de negatividade que afeta a saúde mental e física.
A reestruturação cerebral faz com que indivíduos propensos a reclamações priorizem o que está errado, dificultando o reconhecimento e a apreciação do que é positivo. O hábito de reclamar está associado à liberação de cortisol, o hormônio do estresse. Níveis cronicamente elevados de cortisol podem prejudicar o sistema imunológico, aumentar a suscetibilidade a infecções e inflamações, e elevar o risco de hipertensão, diabetes e doenças cardíacas.
Para combater esses efeitos e promover uma mentalidade mais otimista, práticas como a gratidão, meditação e mindfulness são ferramentas poderosas. Ao focar conscientemente nos aspectos positivos da vida e engajar-se nessas práticas, é possível iniciar um processo de reconfiguração neural, cultivando um cérebro mais inclinado ao otimismo. A compreensão do impacto neurológico da reclamação habitual sublinha a importância de gerenciar pensamentos e reações.
A transição para mecanismos de enfrentamento mais positivos não só melhora a saúde cerebral e o bem-estar emocional, mas também contribui para uma vida mais equilibrada e plena. A neurociência demonstra que a reclamação constante não é apenas um desabafo, mas um processo ativo que molda a nossa realidade neurológica e, consequentemente, a nossa experiência de vida.