Peru rompe relações diplomáticas com o México após concessão de asilo à ex-primeira-ministra Betssy Chávez

O governo do Peru formalizou o rompimento total das relações diplomáticas com o México em 3 de novembro de 2025. Esta decisão drástica surge como uma resposta direta e imediata à concessão de asilo político por parte da Cidade do México à ex-primeira-ministra peruana, Betssy Chávez. Chávez está sob investigação e enfrenta acusações graves de envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado, o que elevou a tensão entre as duas nações a um nível sem precedentes.

O Ministro das Relações Exteriores do Peru, Hugo de Zela, classificou a ação mexicana como um “ato hostil”, enfatizando que a decisão de acolher Chávez era inaceitável. Ele argumentou que este episódio representava o ponto culminante de repetidas e sistemáticas interferências nos assuntos internos peruanos, perpetradas tanto pela liderança mexicana atual quanto pela anterior. Em uma medida imediata e firme, o Presidente Interino do Peru, José Jeri, agiu rapidamente, ordenando a expulsão da encarregada de negócios interina do México em Lima, Karla Ornela, e estabelecendo um prazo rigoroso para a sua partida do território nacional. Por sua vez, o governo mexicano rejeitou veementemente a decisão peruana, considerando-a “excessiva e desproporcional”, e insistiu que a concessão de asilo a Chávez estava em plena conformidade com as normas do direito internacional humanitário, citando especificamente a Convenção de Asilo Diplomático de Caracas de 1954 como base legal.

A complexa crise diplomática que se desenrola tem suas raízes históricas nos turbulentos eventos de dezembro de 2022, quando o então presidente Pedro Castillo foi abruptamente destituído do poder. A postura do lado mexicano, incluindo a Presidente Claudia Sheinbaum, tem sido de crítica consistente à prisão de Castillo, frequentemente rotulando o ato como injusto e antidemocrático. Betssy Chávez, que ocupava o cargo de primeira-ministra durante o breve mandato de Castillo, é acusada de cumplicidade direta na tentativa de dissolução inconstitucional do Congresso. Embora ela tenha sido detida inicialmente em junho de 2023, um juiz posteriormente determinou a sua libertação sob fiança e sujeita a restrições de viagem (proibição de deixar o país) em setembro de 2025, enquanto aguarda o desenrolar do processo judicial. A concessão de asilo pelo México, neste contexto, é vista por Lima como uma obstrução direta à justiça peruana.

Apesar da escalada do conflito político e da ruptura diplomática formal, ambas as nações demonstraram pragmatismo ao tomar medidas explícitas para minimizar os danos colaterais em outras esferas cruciais. É importante notar que os laços consulares permanecem plenamente operacionais, garantindo a continuidade da prestação de serviços essenciais aos cidadãos de ambos os países. Além disso, as relações econômicas bilaterais foram mantidas intactas, sinalizando um esforço mútuo para confinar a disputa ao domínio estritamente político e evitar prejuízos comerciais. O intercâmbio comercial entre Peru e México atingiu a impressionante marca de 2,507 bilhões de dólares americanos durante o ano de 2024. Para o Peru, este mercado é vital, especialmente no setor agrícola, que responde por 49% das suas exportações totais destinadas ao México. A preservação desses fluxos demonstra a prioridade dada à estabilidade econômica mútua.

Este incidente de alto perfil, que culminou no rompimento de relações, reflete tensões geopolíticas e ideológicas mais amplas que permeiam a política regional da América Latina. Rupturas diplomáticas desta magnitude levantam sérias questões sobre a viabilidade futura da integração regional e a coesão de blocos econômicos e políticos. Estruturas multilaterais importantes, como a Aliança do Pacífico, podem ser afetadas por tais desentendimentos. A situação sublinha a dificuldade inerente de harmonizar interesses soberanos e compromissos regionais em um cenário político volátil, onde a concessão de asilo a figuras controversas pode rapidamente escalar para uma crise internacional de grandes proporções.