A indústria brasileira de cana-de-açúcar, um setor econômico vital, está a passar por uma transformação significativa, diversificando a sua produção para além do açúcar e do etanol tradicionais. A expansão inclui o desenvolvimento de biocombustíveis avançados, a geração de bioeletricidade a partir do bagaço e a criação de bioprodutos a partir de resíduos como a vinhaça e a torta de filtro. Esta evolução responde à crescente procura global por energia limpa e alternativas sustentáveis.
Na safra de 2023/2024, o Brasil produziu mais de 713 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, cultivadas em cerca de 10 milhões de hectares. Este volume expressivo não só sustenta a produção de açúcar e etanol, mas também a geração de bioeletricidade, que já é a quarta maior fonte na matriz elétrica do país. A indústria também está a inovar com a produção de biometano e a explorar biocombustíveis avançados, como o etanol de segunda geração (E2G) e os combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), derivados do etanol. O biochar, um produto do bagaço da cana, está a ganhar destaque pelas suas propriedades de melhoria da produtividade agrícola e geração de créditos de carbono. A NetZero, por exemplo, é pioneira neste campo, com planos de expansão de fábricas em Minas Gerais e outros estados, prevendo um investimento de R$ 15 milhões na sua primeira fábrica de biochar em Campina Verde (MG), com operação prevista para fevereiro de 2026 e capacidade inicial de 4.000 toneladas anuais.
A complexidade desta diversificação exige ferramentas analíticas avançadas para a tomada de decisões estratégicas. Modelos de otimização, como o OptBio, foram desenvolvidos para gerir as interações entre os processos produtivos e as incertezas do mercado, avaliando mais de 20 produtos e 20 processos. A Universidade Federal de Uberlândia também desenvolveu modelos focados no planejamento agregado da produção, dimensionamento de frota e otimização logística, utilizando linguagens de modelagem como GAMS e solvers como CPLEX. Estes modelos são essenciais para que as empresas do setor sucroenergético possam equilibrar custos de investimento e operação com as flutuações de preço do mercado, maximizando o potencial de toda a cadeia produtiva da cana-de-açúcar.
A indústria brasileira de cana-de-açúcar demonstra uma notável capacidade de adaptação e inovação. Ao alavancar a sua base estabelecida e investir em novas tecnologias e modelos de gestão, o setor posiciona-se como um ator fundamental na transição global para uma bioeconomia mais sustentável e eficiente, respondendo às necessidades de um mercado cada vez mais focado em soluções de energia limpa e produtos de base biológica.