As Nações Unidas (ONU) confirmaram oficialmente uma crise alimentar sem precedentes na Faixa de Gaza, com a província de Gaza, particularmente as áreas central e norte, a enfrentar uma escassez severa. A Classificação Integrada de Fase de Segurança Alimentar (IPC), com o apoio da ONU, sinaliza que as condições devem agravar-se, com potencial para se estenderem às províncias centrais e sulistas, como Deir al-Balah e Khan Younis, até ao final de setembro.
Volker Türk, Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, sublinhou a gravidade da situação ao afirmar que o uso da fome para fins militares constitui um crime de guerra. Esta declaração surge na sequência do anúncio oficial da ONU sobre a fome em Gaza. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, reiterou o apelo urgente por um cessar-fogo imediato, a libertação de todos os reféns e o acesso humanitário total e irrestrito.
O relatório da Comissão de Revisão da Fome indica que os parâmetros estabelecidos para a fase 5 da classificação foram atingidos, refletindo uma falta extrema de acesso a alimentos e água, deslocamento em larga escala e uma elevada taxa de mortalidade. O documento alerta que esta fome é "criada pelo homem" e, como tal, "pode ser revertida", enfatizando a necessidade de ação imediata e em larga escala. Qualquer atraso na entrega de ajuda levará a um aumento inaceitável de mortes relacionadas com a fome.
A ONU adverte que estes mesmos indicadores podem ser ultrapassados nas próximas semanas noutras áreas do enclave palestiniano, incluindo Deir al-Balah e Khan Younis. O documento aponta para níveis "catastróficos" de insegurança alimentar à medida que a ofensiva israelita progride, que resultou em quase 62.200 mortes em menos de dois anos. A organização reitera que, sem um cessar-fogo que permita a chegada de ajuda a todos os afetados em Gaza e sem a entrega imediata de assistência e alimentos, as mortes aumentarão.
António Guterres descreveu a situação da população palestiniana em Gaza como um "inferno" e uma "falha para toda a humanidade". Ele observou que a fome não é apenas uma questão alimentar, mas um colapso deliberado dos sistemas necessários à sobrevivência humana. Dados da ONU estimam que mais de 20% dos agregados familiares em Gaza não têm acesso a alimentos, e mais de 30% das crianças com menos de cinco anos sofrem de desnutrição aguda.
A ONU enfatiza que as pessoas estão a morrer de fome e as crianças estão a sucumbir, enquanto aqueles com o dever de agir estão a falhar. Como potência ocupante, Israel tem obrigações ao abrigo do Direito Internacional, incluindo a distribuição de alimentos e medicamentos à população local. A ONU apela ao "fim das desculpas" e sublinha que é hora de agir, necessitando-se de um cessar-fogo imediato, da libertação de reféns e da entrada desimpedida de ajuda humanitária.
A situação em Gaza reflete uma profunda necessidade de reconhecer a interdependência global e a responsabilidade coletiva na garantia do bem-estar humano, transformando desafios em oportunidades para ações humanitárias significativas e para a promoção da paz. A comunidade internacional é chamada a agir de forma decisiva, reconhecendo que a inação tem consequências devastadoras e que a cooperação é essencial para mitigar esta crise humanitária. A resiliência demonstrada pela população em circunstâncias tão adversas é um testemunho da força do espírito humano, mas não pode substituir a necessidade urgente de assistência externa e de soluções políticas duradouras.