«Vestuário, Sonhos e Desejo»: Exposição no Museu FIT Explora a Ligação entre a Indumentária e a Identidade Pessoal

O Museu do Instituto de Tecnologia da Moda (FIT), localizado em Nova York, inaugurou uma nova exposição que se debruça sobre a profunda interconexão entre a escolha do vestuário e os processos psicológicos internos, analisada sob a ótica de diversas correntes da psicanálise. Intitulada «Vestuário, Sonhos e Desejo: Moda e Psicanálise», a mostra tem como objetivo principal ilustrar de que maneira as roupas que vestimos se transformam em um espelho do nosso universo interior e das nossas pulsões inconscientes. Esta iniciativa transcende a função de uma simples vitrine de peças da moda; trata-se, na verdade, de uma investigação rigorosa e multifacetada sobre como a indumentária molda e reflete a nossa autoimagem e o nosso desenvolvimento emocional, desde os estágios iniciais da formação da identidade.

A curadoria deste projeto ambicioso ficou a cargo da Dra. Valerie Steele, a diretora do Museu FIT, que foi carinhosamente apelidada pela crítica Suzy Menkes de "a Freud da Moda". O trabalho de concepção da exposição e do livro que a acompanha consumiu mais de cinco anos, exigindo um mergulho profundo na evolução das ideias psicanalíticas sobre temas cruciais como o corpo, a sexualidade e a dinâmica do inconsciente.

O acervo da mostra é composto por cerca de 100 peças, abrangendo um extenso período histórico que vai desde a década de 1880 até os dias atuais. Entre os nomes mais emblemáticos e influentes representados, encontram-se criadores de renome internacional como Gabrielle Chanel, Azzedine Alaïa, Alexander McQueen, Jean-Paul Gaultier, Rick Owens, Thierry Mugler, Vivienne Westwood, além de Gianni e Donatella Versace.

A montagem da exposição segue uma linha cronológica e temática, iniciando-se com uma análise do estilo pessoal de Sigmund Freud e suas influentes teorias sobre a sexualidade e o desejo reprimido. A mostra explora conceitos fundamentais da psicanálise, como o "estágio do espelho" de Jacques Lacan, que aborda a formação do eu através da imagem, e o "ego-pele" de Didier Anzieu, que relaciona a pele e o vestuário como invólucros psíquicos. Essa organização permite acompanhar de perto como a crescente influência e popularidade da psicanálise se infiltrou nas percepções culturais sobre moda e de que forma a liberdade individual passou a ser manifestada e negociada por meio da vestimenta. Um foco particular é dedicado à tendência moderna de ideias não-binárias e de fluidez de gênero, evidenciada em modelos contemporâneos que dissolvem as fronteiras estritas entre o "masculino" e o "feminino", refletindo mudanças sociais profundas.

A inauguração solene da exposição ocorreu em 10 de setembro de 2025, e ela estará aberta ao público para visitação até 4 de janeiro de 2026. Adicionalmente, está agendado para 14 de novembro de 2025 o simpósio "Moda e Psicanálise", que será o 34º realizado pelo Museu FIT. Espera-se a presença da atriz e ativista Lauren Lux, da designer Bella Freud, e contará com palestras dos psicanalistas Patricia Gherovici e Shimon Segre-Reinach.

O historiador Peter Gay certa vez fez a observação: "Todos nós falamos a linguagem de Freud, saibamos disso ou não", e esta exposição demonstra de forma categórica que o universo da moda é um exemplo eloquente dessa realidade. O evento, que conta com o apoio do Conselho do Museu FIT e da Fundação Kobi, oferece uma oportunidade única para enxergar o vestuário não apenas como adorno, mas como uma ferramenta essencial de autoconhecimento e de manifestação da individualidade.