A Argentina está a considerar a implementação de uma nova legislação para regular as plataformas de fast fashion, como Shein e Temu, numa iniciativa inspirada em medidas semelhantes adotadas recentemente em França. A proposta visa proteger a indústria têxtil nacional e as condições de concorrência para os produtores locais.
A Câmara Industrial de Vestuário Argentina (CIAI) lidera a proposta, que espelha as ações francesas de combater os excessos da "ultra-fast fashion". França introduziu taxas ecológicas, proibiu a publicidade de marcas que operam sob este modelo e implementou um "eco-score" para avaliar o impacto ambiental das peças. Sanções progressivas, que podem chegar a 10 euros por peça até 2030, e uma multa de 40 milhões de euros aplicada à Shein por práticas comerciais desleais demonstram o compromisso francês em redefinir os padrões de consumo e produção na moda.
O cenário argentino tem sido marcado por um aumento expressivo nas importações de vestuário. Entre janeiro e maio de 2025, as importações atingiram quase 253 milhões de dólares, um crescimento de 7% em valor e 186% em volume em comparação com o ano anterior. Estima-se que 67% das peças vendidas no mercado interno e 75% em centros comerciais sejam de origem estrangeira. Este fluxo massivo de importações, impulsionado pela facilidade de acesso a plataformas online e por um câmbio favorável, tem impactado severamente a indústria têxtil argentina, com relatos de mais de 10.000 postos de trabalho perdidos nos últimos dezoito meses.
A proposta argentina em desenvolvimento contempla a exigência de certificados de origem, auditorias ambientais e controlo de toxicidade, além de uma revisão das tarifas e impostos aplicados às plataformas. A CIAI busca construir um consenso político e setorial para avançar com estas medidas, que já encontram paralelos em países como México, Equador, Chile, Uruguai e Colômbia. A indústria têxtil argentina enfrenta um desafio para competir em igualdade de condições, dadas as leis laborais e ambientais mais rigorosas que as empresas locais devem cumprir.
O impacto ambiental do fast fashion é um ponto crítico, com a indústria têxtil sendo uma das maiores poluidoras globais. A produção em massa, o uso de materiais sintéticos como poliéster e processos de tingimento que contaminam corpos d'água contribuem significativamente para a emissão de gases de efeito estufa e poluição por microplásticos. Ao considerar estas regulamentações, a Argentina busca proteger a sua base produtiva e o emprego, alinhando-se com uma visão de desenvolvimento mais consciente e sustentável.