Uma nova fronteira na compreensão do universo está sendo desbravada através da geometria algébrica, um ramo da matemática que estuda formas definidas por equações polinomiais. Pesquisadoras como Claudia Fevola e Anna-Laura Sattelberger demonstraram como essa disciplina pode servir como uma ponte entre a física de partículas e a cosmologia, unificando a descrição de fenômenos em escalas radicalmente diferentes.
O trabalho de Fevola e Sattelberger, publicado na "Notices of the American Mathematical Society" em agosto de 2025, introduz a geometria positiva como um novo campo para representar interações de partículas e fenômenos cósmicos através de formas geométricas de alta dimensão. Essa abordagem oferece uma perspectiva complementar aos diagramas de Feynman, ferramentas tradicionais na física de partículas para descrever interações.
A geometria positiva, inspirada por descobertas em física de partículas e cosmologia, propõe que essas interações possam ser codificadas como volumes de objetos geométricos, como o amplituhedron, um conceito que emergiu em 2013. Essa pesquisa faz parte de um esforço internacional maior, apoiado pela bolsa de sinergia da ERC UNIVERSE+, que reúne matemáticos e físicos.
O projeto UNIVERSE+, liderado por Nima Arkani-Hamed, Daniel Baumann, Johannes Henn e Bernd Sturmfels, visa desenvolver uma nova linguagem matemática para descrever fenômenos físicos em todas as escalas, desde as interações de partículas elementares até a estrutura em larga escala do universo. A iniciativa, que recebeu 10 milhões de euros da ERC, busca criar um campo matemático amplamente aplicável chamado Geometria Positiva.
A aplicabilidade dessa nova perspectiva se estende à cosmologia. Ferramentas de geometria algébrica, análise algébrica (como a teoria D-módulos) e combinatória estão sendo empregadas para estudar correlações em dados cosmológicos, como a radiação cósmica de fundo e a distribuição de galáxias. Estruturas conhecidas como politopos cosmológicos, que são instâncias de geometrias positivas, podem modelar essas correlações, auxiliando na reconstrução e previsão da arquitetura e do comportamento do universo primitivo.
A simbiose entre matemática e física é fundamental para esses avanços. A matemática fornece as ferramentas conceituais, enquanto a física inspira novas ideias matemáticas. Essa relação dinâmica é evidente em áreas como a teoria quântica de campos e a cosmologia, onde novas teorias matemáticas e físicas evoluem juntas. A geometria algébrica, ao fornecer uma linguagem unificadora, permite que os fenômenos físicos sejam tratados em ambas as escalas, do subatômico ao cósmico, sugerindo um idioma geométrico comum para a compreensão da natureza.