Descobertas de dentes antigos na China, com cerca de 300.000 anos, estão a impulsionar uma reavaliação das ideias sobre a evolução humana na Ásia. Publicada no Journal of Human Evolution, a pesquisa, liderada pelo Professor Wu Xuzhi e com a participação de especialistas do Centro Nacional de Investigação sobre a Evolução Humana (CENIEH), revela uma combinação única de características primitivas e modernas.
Os dentes apresentam fortes raízes, típicas de hominídeos do Pleistoceno Médio, como o Homo erectus. No entanto, a redução do terceiro molar é uma característica distintiva do Homo sapiens e de hominídeos mais recentes. Esta descoberta apoia a noção de que traços associados ao Homo sapiens podem ter emergido não apenas em África, mas também noutras regiões, como resultado de interações complexas entre diferentes populações. Assim, Hualongdong junta-se a locais significativos como Panxian Dadong ou Cizhong, onde foram encontrados fósseis com características ambíguas semelhantes. Uma análise mais aprofundada revelou que, apesar da sua antiguidade, os dentes de Hualongdong partilham muitas características derivadas com hominídeos do Pleistoceno Superior e até com humanos modernos, incluindo contornos oclusais semelhantes aos humanos e padrões avançados de sulcos nos pré-molares. Isto sugere que alguns traços modernos já estavam a emergir na Ásia muito antes da dispersão global do Homo sapiens, desafiando os modelos tradicionais de migração "fora de África" e indicando um cenário evolutivo mais complexo e multifacetado no continente asiático.
O próximo passo crucial é a extração de ADN antigo destes restos fossilizados. Embora seja uma tarefa desafiadora devido ao clima quente e húmido da região, o sucesso nesta área poderá revelar se os dentes de Hualongdong representam evidências definitivas de um "romance evolutivo" entre espécies ou simplesmente um caminho alternativo e malsucedido para a humanidade moderna. A possibilidade de intercâmbio genético entre o Homo sapiens e o Homo erectus adiciona uma camada fascinante à nossa compreensão da evolução humana, indicando que a Ásia pode ter sido um centro de experimentação evolutiva durante o Pleistoceno Médio. Esta descoberta sublinha a importância da investigação contínua em paleontologia e evolução humana, destacando a necessidade de reconsiderar as teorias existentes à luz de novos dados. A diversidade de hominídeos na Ásia durante o Pleistoceno Médio, com descobertas recentes como Homo luzonensis nas Filipinas e Homo longi na China, complica ainda mais a árvore genealógica humana, reforçando a ideia de que a evolução humana não foi um processo linear, mas sim uma rede complexa de interações e desenvolvimentos regionais.