Um estudo recente publicado na Nature Ecology & Evolution revela um declínio alarmante nas populações de aves tropicais, com estimativas indicando uma redução de 25% a 38% desde 1950. Esta tendência preocupante é atribuída principalmente às ondas de calor induzidas pelas alterações climáticas, que tornaram os dias perigosamente quentes aproximadamente dez vezes mais frequentes para estas espécies. A pesquisa, que analisou mais de 90.000 observações de mais de 3.000 populações de aves em todo o mundo entre 1950 e 2020, destaca que o impacto do calor extremo nas regiões tropicais já supera os efeitos da destruição direta de habitats, como o desmatamento.
Os investigadores, incluindo cientistas da Universidade de Queensland e do Instituto Potsdam de Investigação do Impacto Climático, descobriram que o aumento da exposição a temperaturas elevadas resulta em taxas de mortalidade mais altas, fertilidade reduzida e alterações nos comportamentos de reprodução. Um exemplo notável é o da Floresta Amazónica, onde um aumento de apenas 1°C nas temperaturas da estação seca correlacionou-se com uma queda de 63% nas taxas de sobrevivência de certas espécies de aves. Este fenómeno é particularmente crítico, pois as aves tropicais, que representam quase metade de todas as espécies de aves do mundo, já vivem perto dos seus limites de tolerância térmica. O estudo também aponta que, em muitas áreas tropicais, o impacto das alterações climáticas nas aves é agora mais significativo do que as pressões humanas diretas. Isto ajuda a explicar os declínios observados em florestas tropicais remotas e protegidas, onde as causas não eram imediatamente aparentes. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) também alertou para o agravamento da crise climática, com ondas de calor a quebrar recordes a nível mundial, exacerbando os incêndios florestais e a má qualidade do ar. Estes fatores ambientais interligados sublinham a necessidade urgente de estratégias globais de mitigação das alterações climáticas para proteger ecossistemas e espécies vulneráveis. A investigação sugere que, sem uma redução significativa das emissões de gases de efeito estufa, a intensidade e a frequência das ondas de calor continuarão a aumentar, diminuindo ainda mais as hipóteses de sobrevivência das aves tropicais.