Uma reanálise de dados da missão Cassini revelou a presença de moléculas orgânicas complexas em grãos de gelo ejetados de Encélado, a lua de Saturno. Essa descoberta, publicada em 1º de outubro de 2023, sugere que essas moléculas precursoras cruciais se originam no oceano subsuperficial de Encélado, e não são apenas um subproduto da exposição à radiação espacial. A sonda Cassini, que operou entre 2004 e 2017, coletou amostras de gelo das erupções de Encélado, e um estudo recente focou em partículas recém-ejetadas para distinguir sua origem.
A análise meticulosa confirmou a presença de moléculas orgânicas complexas, incluindo precursores de aminoácidos, nas amostras. Isso indica que essas moléculas estão, de fato, se formando no oceano da lua, um avanço significativo na compreensão de sua habitabilidade potencial. O cientista planetário Frank Postberg enfatizou que as moléculas encontradas no material recém-ejetado confirmam sua origem no oceano de Encélado. Esta descoberta é particularmente importante, pois essas moléculas orgânicas complexas são consideradas os blocos de construção fundamentais da vida como a conhecemos. A presença dessas moléculas, juntamente com água líquida e evidências de atividade hidrotérmica, atende aos requisitos fundamentais para a habitabilidade. Embora a descoberta não confirme a existência de vida, ela sugere fortemente que Encélado possui um ambiente quimicamente diverso e potencialmente favorável à vida. Encélado, com cerca de 500 quilômetros de diâmetro, é um forte candidato na busca por vida extraterrestre devido ao seu oceano de água salgada subsuperficial e às erupções em seus polos sul.
A presença de moléculas orgânicas complexas, juntamente com elementos como sais, metano, dióxido de carbono e fósforo, sugere que Encélado possui muitos dos requisitos fundamentais para a vida como a conhecemos. O estudo revelou novos tipos de compostos orgânicos, indicando uma química oceânica mais complexa em Encélado do que se pensava anteriormente. Entre eles estão moléculas de hidrocarbonetos cíclicos e moléculas com ligações de oxigênio, como aldeídos, que na Terra podem levar à formação de aminoácidos. Também foram encontrados compostos de hidrocarbonetos complexos, como ésteres e alcenos, que na Terra são frequentemente encontrados como gorduras e óleos. Alguns cientistas acreditam que as condições no oceano de Encélado podem espelhar as encontradas em sistemas hidrotermais de oceanos profundos na Terra, ambientes conhecidos por sustentar vida. A astroquímica Caroline Freissinet observou que novas tecnologias, incluindo aprendizado de máquina e inteligência artificial, permitem uma nova interpretação de dados históricos de missões espaciais. A Agência Espacial Europeia (ESA) está considerando futuras missões a Encélado para investigar suas plumas e, potencialmente, pousar em sua superfície.
Essas missões propostas, ainda em fase inicial de planejamento, representariam um passo significativo na exploração do sistema solar pela Europa e poderiam fornecer respostas definitivas sobre a presença de vida em Encélado. A comunidade científica aguarda com expectativa futuras explorações, pois mesmo um resultado negativo levantaria questões profundas sobre por que a vida não estaria presente em um ambiente com condições tão aparentemente favoráveis. "Esses resultados aumentam ainda mais o potencial de habitabilidade", disse Nozair Khawaja, autor principal do estudo, "e reforçam a necessidade de uma nova missão." Ele acrescentou: "Temos certeza de que essas moléculas vêm do oceano subsuperficial de Encélado, o que aumenta seu potencial de habitabilidade." A análise contínua dos dados da Cassini, aprimorada por técnicas computacionais modernas, ressalta o valor duradouro das missões espaciais passadas, expandindo os limites de nossa compreensão do cosmos.