Colapso da Geleira Hektoria em Dois Meses Revela Vulnerabilidade Crítica do Gelo Antártico

Editado por: Tetiana Martynovska 17

Retirada de um glaciar ancorado registrada, causada por um processo de calvagem numa planície de gelo

Uma investigação científica internacional, publicada na revista Nature Geoscience, revelou um evento de retração sem precedentes na Geleira Hektoria, localizada na Península Antártica Oriental. O recuo, que ocorreu entre novembro e dezembro de 2022, resultou na perda de mais de oito quilômetros de massa de gelo em um período de apenas dois meses. Este ritmo atingiu uma velocidade dez vezes superior à observada anteriormente em geleiras que permaneciam ancoradas ao leito rochoso.

Hektoria Glacier

O monitoramento do fenômeno foi realizado por meio de um cruzamento de dados de imagens de satélite, registros fotográficos aéreos e medições altimétricas. O aspecto mais preocupante para a comunidade científica é que essa perda substancial ocorreu em gelo ainda apoiado em substrato rochoso, e não em gelo flutuante. Isso estabelece uma conexão direta com o potencial aumento futuro do nível dos oceanos. Especialistas atribuem o movimento acelerado à topografia singular da região, marcada por um terreno costeiro e plano na base da geleira.

Pesquisadores comparam o evento com a desintegração da plataforma de gelo Larsen B em 2002, que fornecia contenção natural. A pesquisadora Naomi Ochwat, do CIRES, expressou espanto ao sobrevoar a área em 2024, descrevendo o colapso como um “piso instável cedendo de repente”. A perda do suporte de gelo marinho que a estabilizava por cerca de uma década desencadeou uma fragmentação em série, confirmada por pequenos “terremotos glaciais” gerados pelo desprendimento de blocos, indicando que o gelo estava preso ao leito durante o colapso.

Este episódio na Hektoria reflete um sistema maior em reconfiguração e sublinha a urgência de aprofundar a compreensão sobre as vastas reservas de gelo polar. A perda de gelo na Antártida, que já somou cerca de 12 trilhões de toneladas desde 1997, é um fator crítico na dinâmica oceânica global. Em março de 2025, o Escritório das Nações Unidas em Genebra alertou que, se o ritmo atual de derretimento persistir, muitas geleiras regionais podem não resistir ao longo do século XXI, colocando em risco o abastecimento hídrico de centenas de milhões de pessoas, visto que as geleiras armazenam 70% da água potável do planeta.

A contribuição da Antártida para o aumento do nível do mar pode chegar a 1,20 metro até 2100 sob cenários mais perigosos. A forma como a estrutura de suporte cede na Hektoria, liberando uma massa contida, revela a interconexão de todos os elementos do sistema terrestre, exigindo uma reavaliação das dinâmicas que sustentam o ambiente global.

Fontes

  • Antena3

  • El País

  • United Nations Office at Geneva

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