Uma análise recente de dados meteorológicos coletados ao longo de três décadas (1993-2022) revela um padrão de aquecimento acelerado no interior da Antártida Oriental, com taxas que superam significativamente a média global.
Este fenómeno, documentado por três estações meteorológicas não tripuladas – Dome Fuji, Relay e Mizuho – indica que o interior do continente está a aquecer a um ritmo de 0,45 a 0,72 graus Celsius por década. Ao contrário das regiões costeiras da Antártida, que não apresentaram tendências de aquecimento significativas, o interior exibe uma clara trajetória ascendente.
Os investigadores atribuem este aquecimento a uma complexa interação de fatores, com as alterações no Oceano Índico Meridional a desempenharem um papel crucial. Este mecanismo de aquecimento, que não é capturado pelos modelos climáticos atuais, envolve o intensificar das frentes oceânicas. Estas frentes criam um padrão de "dipolo", que atrai massas de ar quente para o interior do continente.
Este aquecimento acelerado no interior da Antártida Oriental sugere que as previsões atuais sobre o futuro derretimento do gelo podem ser demasiado otimistas. As descobertas sublinham a necessidade de integrar estas novas perspetivas nos modelos climáticos, pois o rápido aumento da temperatura poderá afetar as regiões costeiras mais cedo do que o previsto, com potenciais implicações para os níveis globais do mar.
Estudos anteriores indicavam que o interior da Antártida Oriental era estável ou até arrefecia ligeiramente, em contraste com a Antártida Ocidental e a Península Antártica, que são conhecidas por serem pontos de aquecimento. No entanto, esta nova investigação desafia essas noções, revelando uma vulnerabilidade anteriormente subestimada na maior reserva de gelo do mundo.
O Oceano Índico Meridional, em particular, tem sido identificado como um motor chave deste aquecimento. O aquecimento das suas águas e a intensificação das suas frentes oceânicas alteram os padrões de circulação atmosférica, transportando ar mais quente para o interior da Antártida. Este fenómeno é particularmente preocupante, pois a Antártida Oriental contém a vasta maioria do gelo glacial da Terra, com o potencial de contribuir significativamente para o aumento do nível do mar se o gelo derreter.
O aumento da temperatura no interior da Antártida Oriental, que não era previsto pelos modelos climáticos atuais, pode levar a uma reavaliação das projeções de perda de gelo e, consequentemente, do aumento do nível do mar. A investigação realça a interconexão entre os sistemas oceânicos e atmosféricos e o seu impacto direto nas regiões polares, que são cruciais para o equilíbrio climático global.