Cientistas investigam há mais de duas décadas um enigmático brilho nas águas antárticas, um fenômeno agora atribuído à presença de minúsculos organismos: diatomáceas e coccolitóforos. Imagens de satélite revelaram áreas de luminosidade incomum, anteriormente associadas apenas ao 'Grande Cinturão de Calcita' mais ao norte. Uma expedição de pesquisa a bordo do R/V Roger Revelle navegou até o paralelo 60 sul para realizar medições abrangentes da cor da água, refletividade e comunidades biológicas.
A investigação confirmou que os diatomáceos, envoltos em conchas vítreas de sílica, são uma causa primária da luminescência observada. Os pesquisadores também encontraram evidências de que os coccolitóforos podem sobreviver nessas águas mais frias do sul, potencialmente atuando como 'populações semente' que contribuem para os ciclos de nutrientes. Essas descobertas são de grande relevância, considerando o papel crucial da região antártica como um importante reservatório de carbono e os impactos contínuos das mudanças climáticas.
Os diatomáceos desempenham um papel significativo no ciclo global do carbono, sendo responsáveis por até 40% da produtividade primária marinha e auxiliando na remoção de dióxido de carbono da atmosfera. Sua capacidade de armazenar carbono nas profundezas do oceano é subestimada, com suas estruturas de sílica atuando como lastro para a transferência de matéria orgânica para o oceano profundo. No entanto, um estudo recente, utilizando 25 anos de observações por satélite, indicou que os diatomáceos diminuíram significativamente em vastas áreas da plataforma continental antártica, enquanto grupos menores de fitoplâncton aumentaram. Essa mudança, que ocorreu após 2016, coincidiu com a perda de gelo marinho.
Essas alterações ameaçam desorganizar a cadeia alimentar centrada no krill, que sustenta baleias, pinguins e focas, ao mesmo tempo que enfraquecem o papel do Oceano Antártico como um sumidouro de carbono global. A diminuição dos diatomáceos pode enfraquecer a bomba biológica de carbono, resultando em menos dióxido de carbono sendo transportado para o fundo do mar. Os coccolitóforos, por sua vez, também são vitais para o ciclo do carbono, contribuindo para a bomba biológica de carbono através da formação de conchas de carbonato de cálcio que, ao afundarem, transportam carbono para o oceano profundo.
Embora tradicionalmente associados a águas mais temperadas, há evidências de que os coccolitóforos podem sobreviver em águas mais frias do que se pensava anteriormente, possivelmente atuando como populações semente que ajudam a reabastecer outras áreas. A presença de coccolitóforos em uma gama geográfica mais ampla do que o esperado pode influenciar como o carbono se move através do Oceano Antártico, um dos sumidouros atmosféricos de CO₂ mais críticos do planeta. A capacidade de distinguir os sinais de satélite de coccolitóforos e diatomáceos é crucial, pois os modelos atuais podem confundir esses sinais, levando a imprecisões na estimativa de biomassa e produtividade.
A integração de dados multiespectrais com contexto bioquímico pode permitir uma caracterização mais precisa das comunidades planctônicas, aprimorando as capacidades preditivas para as respostas do ecossistema às mudanças climáticas. A investigação contínua desses organismos minúsculos revela a complexidade e a adaptabilidade do ecossistema do Oceano Antártico, com implicações significativas para o clima global.