A história de Kuarahy e Jasy, dois filhotes de lobo-guará (*Chrysocyon brachyurus*), resgatados na Argentina, serve como um poderoso lembrete da urgência da conservação da vida selvagem sul-americana. Órfãos com apenas 45 dias de idade, os jovens canídeos foram retirados de uma situação de grande vulnerabilidade. O lobo-guará, o maior canídeo do continente e um símbolo resiliente do Cerrado, enfrenta ameaças constantes devido à expansão humana e à captura ilegal.
O processo de reabilitação dos animais foi conduzido com rigor técnico, começando no Centro de Conservação Aguará e continuando no Centro de Recuperação da Fundação Temaikén, localizado em Escobar. Este cuidado intensivo incluiu a microchipagem dos filhotes para possibilitar o rastreamento futuro, evidenciando a cooperação eficaz entre as instituições envolvidas. A colaboração entre organizações como a Rewilding Argentina e a Fundación Temaikén multiplica os esforços em prol da preservação da espécie.
Sinais encorajadores para o sucesso da soltura são a manifestação dos comportamentos inatos dos filhotes. Kuarahy e Jasy já demonstram brincadeiras e a busca instintiva por abrigo, indicando que as habilidades essenciais para a vida livre permanecem preservadas. Este aprendizado, normalmente transmitido pelos pais, é vital, pois filhotes órfãos exigem um preparo especializado antes de qualquer reintegração ao ambiente natural.
Para assegurar uma transição completa e monitorar sua adaptação, os lobos-guarás serão equipados com coleiras de satélite GPS. Este monitoramento detalhado permitirá aos especialistas analisar dados cruciais, como o nível de estresse medido por meio de dados cardíacos, validando assim os métodos de reabilitação e aprimorando protocolos para futuras libertações.
O contexto ambiental mais amplo sublinha a importância deste resgate. A aparição de lobos-guarás fora de seus habitats típicos, como em Olavarría, Argentina, frequentemente reflete desequilíbrios ambientais maiores, como o desmatamento e as alterações climáticas. A espécie, classificada como vulnerável pela IUCN, tem sua população estimada em cerca de 17 mil indivíduos, com a maior concentração no Brasil, e a destruição do seu lar constitui a ameaça primária. A recuperação de Kuarahy e Jasy transcende o resgate individual, representando um passo fundamental na restauração do equilíbrio de um ecossistema vital.