As celebrações com fogos de artifício, embora festivas, representam um desafio significativo para o bem-estar dos cães. A sensibilidade auditiva superior dos cães, que captam sons até 40.000 Hz, em comparação com os 20.000 Hz dos humanos, torna os estrondos dos fogos de artifício particularmente angustiantes. Essa aguçada capacidade auditiva faz com que ruídos acima de 60 decibéis, como uma conversa em tom alto, já possam causar estresse físico e psicológico em cães. Os fogos de artifício, que podem ultrapassar os 160 decibéis, são percebidos como uma ameaça, desencadeando respostas de luta ou fuga e levando a comportamentos como tremores, respiração ofegante, inquietação e vocalizações de angústia.
Historicamente, a tradição dos fogos de artifício tem sido um elemento constante em celebrações ao redor do mundo, mas o seu impacto nos animais tem ganhado cada vez mais atenção. Em resposta a essa preocupação crescente, algumas comunidades e cidades, como São Paulo, Cuiabá, Campo Grande, Curitiba e Rio de Janeiro, no Brasil, já implementaram proibições aos fogos de artifício com som alto, visando proteger não apenas os animais, mas também idosos, autistas, bebês e enfermos. Essa mudança reflete uma evolução na forma como as celebrações são concebidas, buscando alternativas que minimizem o sofrimento animal.
Para mitigar o estresse em cães durante eventos com fogos de artifício, diversas estratégias podem ser adotadas. Criar um refúgio seguro e acolhedor, como uma caixa de transporte ou um cantinho com cobertores e objetos com o cheiro do tutor, pode oferecer um senso de segurança. Manter as janelas e cortinas fechadas ajuda a diminuir a intensidade dos sons e os estímulos visuais. A presença do tutor é fundamental, transmitindo calma e segurança ao animal. Além disso, o uso de música calma, playlists específicas para reduzir a ansiedade canina ou até mesmo o som de aparelhos domésticos como rádio ou TV podem ajudar a mascarar os ruídos externos.
Técnicas como o Tellington TTouch, que envolve uma pressão suave em pontos específicos do corpo, podem promover relaxamento. Em casos de ansiedade severa, a consulta a um veterinário para orientação sobre calmantes naturais, como florais ou feromônios sintéticos, é recomendada.
O México, onde os fogos de artifício são uma tradição em feriados, tem enfrentado incidentes trágicos envolvendo animais. Relatos de cães feridos por fogos de artifício, como o caso de uma cadela em Puebla que teve o focinho atingido em setembro de 2023, ou um pitbull amarrado e atingido por fogos em Tlaquepaque em 2016, destacam a gravidade do problema e a necessidade de medidas de proteção mais eficazes. Esses eventos sublinham a importância de conscientização e da busca por alternativas mais seguras e humanitárias para as celebrações, como shows de luzes ou exibições com drones, que já estão sendo explorados por alguns locais, como o Six Flags Mexico. A transição para celebrações mais silenciosas não apenas protege os animais, mas também contribui para um ambiente mais harmonioso para toda a comunidade.