A evitação de notícias atingiu um patamar sem precedentes em escala global, com 40% da população mundial optando ativamente por não consumir informações noticiosas. Este índice representa um aumento significativo em relação aos 29% registrados em 2017, indicando uma crescente desconexão do público com os eventos correntes.
As razões para essa tendência são multifacetadas. O impacto negativo no humor é um dos principais impulsionadores, com 39% dos entrevistados relatando que as notícias afetam seu estado de espírito de forma prejudicial. Adicionalmente, a sobrecarga de informação é um fator relevante, pois 31% sentem-se sobrecarregados pelo volume de notícias, enquanto 30% evitam o conteúdo devido à constante exposição a conflitos e polarização. Um segmento considerável da população, especificamente 20%, sente-se impotente diante das informações recebidas, o que contribui para o distanciamento.
Jovens, em particular, com idades entre 18 e 24 anos, demonstram maior propensão a evitar notícias, citando dificuldades de compreensão ou uma percepção de falta de relevância em suas vidas. Essa desengajamento crescente apresenta desafios consideráveis para a manutenção de um discurso público informado e para a participação cívica.
Em resposta a essa tendência, organizações de notícias estão a reavaliar e adaptar as suas estratégias. Há um foco crescente em conteúdos mais analíticos e a exploração do uso de inteligência artificial para personalizar a entrega de informações, visando capturar o interesse do público em tópicos de maior relevância. A pesquisa do Digital News Report de 2022, que abrange 46 países, revela que o interesse em notícias caiu de 63% em 2017 para 51% em 2022, com a confiança nos meios de comunicação também em declínio em muitas regiões.
O Brasil, em particular, mostra uma taxa de evitação de notícias de 54%, um aumento acentuado em relação a 2017. A pesquisa do Reuters Institute também aponta que, globalmente, a confiança nas notícias diminuiu, com apenas sete países registrando um aumento nesse índice. A evitação de notícias, embora possa ser vista como um mecanismo de autoproteção contra o estresse, também levanta preocupações sobre a alienação cívica e a capacidade dos cidadãos de participar ativamente nas decisões que afetam suas vidas e a sociedade.
A busca por um jornalismo que seja mais acessível, compreensível e relevante para as diversas audiências torna-se, portanto, um imperativo para a saúde do debate público e da democracia.