Uma nova e inovadora descoberta, publicada na revista *Nature Neuroscience*, sugere que a representação cerebral do corpo é mais resiliente do que se pensava anteriormente, mesmo após a perda de um membro. Investigadores da Universidade de Cambridge, liderados pela Dra. Tamar Makin, e da Universidade de Pittsburgh, com o Dr. Hunter Schone como autor principal, observaram três indivíduos que passaram por amputações de mão. Utilizando imagens de ressonância magnética funcional (fMRI), a equipa descobriu que o mapa cerebral da mão ausente permaneceu notavelmente consistente ao longo do tempo, desafiando a ideia de uma reorganização cerebral extensiva.
Durante décadas, a visão predominante na neurociência era que o córtex somatossensorial, responsável pela representação do corpo, sofria uma reorganização significativa e rápida após a amputação de um membro. A hipótese da reorganização cortical postulava que áreas cerebrais vizinhas, como as que representam o rosto ou os lábios, invadiriam o território anteriormente ocupado pelo membro perdido. No entanto, esta nova investigação, que analisou a atividade cerebral antes e após a amputação, apresenta uma perspetiva diferente.
O Dr. Schone afirmou que "o mapa corporal no cérebro é altamente preservado no córtex sensorial, ou córtex somatossensorial, apesar de uma mudança muito drástica na entrada sensorial que retorna ao cérebro", indicando uma representação neural estável do membro perdido. Esta estabilidade neural tem implicações significativas para o avanço de tecnologias protéticas e para o tratamento da dor do membro fantasma.
A preservação dos mapas neurais pode facilitar um controlo mais refinado de próteses através de interfaces cérebro-computador (BCIs). De facto, a estabilidade destes mapas oferece uma base sólida para que as tecnologias de BCI operem com a suposição de que estes mapas corporais permanecem consistentes. Isto abre a porta para explorar detalhes mais finos dentro do mapa da mão, como distinguir a ativação de uma ponta de dedo em relação à base de um dedo, e trabalhar na restauração de sensações complexas como textura, forma e temperatura.
É notável que esta constatação de estabilidade é reforçada por estudos anteriores que demonstraram representações neurais intactas de mãos ausentes mesmo décadas após a amputação. Esta persistência sugere que o cérebro mantém um modelo interno do corpo que é resistente a mudanças estruturais significativas decorrentes da perda sensorial. Esta resiliência neural pode também explicar por que razão as terapias focadas em "corrigir" reorganizações corticais supostas tiveram sucesso limitado no tratamento da dor do membro fantasma, sugerindo que as abordagens mais promissoras podem envolver uma reavaliação da própria cirurgia de amputação, como a enxertia de nervos em novos tecidos.
A investigação, que acompanhou os participantes ao longo de vários anos após a amputação, também sugere que as premissas anteriores sobre a maleabilidade cerebral podem ter sido influenciadas por falhas metodológicas. Em vez de uma reconfiguração completa, o cérebro parece manter um modelo duradouro do corpo, com circuitos latentes para o membro ausente que permanecem funcionalmente acessíveis. Esta visão oferece uma perspetiva encorajadora, retratando um substrato neural resiliente que preserva a essência do membro perdido, abrindo assim caminhos promissores para o desenvolvimento de tecnologias protéticas mais sofisticadas e para a melhoria das estratégias de gestão da dor para amputados.