A província de Cabo Delgado, em Moçambique, enfrenta uma escalada alarmante da crise humanitária e de segurança. Entre 20 e 28 de julho de 2025, ataques insurgentes afiliados ao Estado Islâmico forçaram o deslocamento de mais de 46.000 pessoas, a maioria mulheres e crianças, que enfrentam riscos acrescidos de exploração e violência de género. Os distritos de Chiúre, Ancuabe e Muidumbe foram os mais afetados. Em Chiúre, mais de 42.000 pessoas foram deslocadas, com mais de metade a serem crianças, procurando refúgio em áreas como Chiúre Sede, onde as condições são precárias, com acampamentos superlotados e falta de serviços básicos. Relatos indicam um número elevado de crianças não acompanhadas ou separadas das famílias.
A situação em Ancuabe deteriorou-se rapidamente, com o número de famílias deslocadas a triplicar numa semana, totalizando quase 2.000 pessoas, incluindo mais de 1.200 crianças. Em Muidumbe, aldeias foram incendiadas e ocorreram confrontos com as forças de defesa moçambicanas. Desde janeiro de 2025, mais de 95.000 pessoas fugiram da insegurança em Cabo Delgado, e o acesso humanitário está a tornar-se cada vez mais frágil. A crise é agravada pela falta de financiamento; o Plano de Resposta Humanitária para 2025 requer 352 milhões de dólares, mas apenas 19% (66 milhões de dólares) foram financiados, forçando as agências a reduzir as suas metas em mais de 70%. Dados do Centro de Estudos Estratégicos Africanos (ACSS) indicam que pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique em 2024, um aumento de 36% em relação ao ano anterior. A União Africana (UA) tem procurado avaliar a situação, com missões técnicas enviadas para compreender os desafios e propor recomendações, mas a escala da crise exige um compromisso internacional e regional mais robusto.